Depois da noite de ontem passada, em directo (e quase de directa) do Shrine Auditorium, a postar sobre a Red Carpet e momentos da cerimónia, fiquem os leitores do SLIH tranquilos que, por agora, não vou falar dos vestidos, nem do Clooney ou outras futilidades semelhantes, mas procurar fazer uma análise pessoal e tão objectiva quanto possível da cerimónia.
1.º Não gostei do apresentador. Foi melhor que o Chris Rock, que o Steve Martin e que a degenerada Ellen, mas não tem o brilho nem a verve de um Billy Crystal ou uma Whoopi Goldberg! Ficou por isso aquém e, em alguns momentos, considero que as suas 'graçolas de oportunidade' resvalaram para a inconveniência. Opiniões!
2.º Adorei a ideia de ir passando pequenos flashes de outras cerimónias destes últimos 80 anos de Oscars. O Cinema é mesmo isso, retalhos, fragmentos, imagens, histórias.
3.º Houve sem dúvida Oscars muitíssimo bem atribuídos dos quais destaco, por razões óbvias, o de Melhor Guarda Roupa para o filme Elizabeth, the Golden Age (a descarga de adrenalina provocada pelo desfile de fabulosos vestidos de Cate Blanchett só pode rivalizar com aquela memorável cena dos sapatos do Marie Antoinette) e o de melhor Banda Sonora para Atonement (sobretudo na primeira parte do filme a música é o principal aliado de um argumento poderoso e de uma direcção brilhante!).
4.º Passamos direitinhos para o facto de não compreender como é possível o realizador de Atonement não estar nomeado para o Oscar, nem o filme na categoria de melhor “film editing”. Não se entende na medida em que se há virtude que o filme preenche de forma sublime é a direcção e o encadeamento perfeito de duas narrativas, uma dentro de outra!
5.º Passando à interpretação (e notando que é a primeira vez em 40 anos em que nenhum dos 4 vencedores é americano) não posso concordar com a vitória de Tilda Swinton, por uma interpretação sem dúvida boa mas que passa longe do génio. A jovem Saoirse Ronan merecia o Oscar pela densidade, complexidade e credibilidade que dá a Brionny, numa personagem que não colhe simpatias, mas que conquista pelo brilhantismo da interpretação. Quanto a Javier Barden, não tendo visto o filme não discuto, e reconheço que o magnetismo pessoal do espanhol (apesar de não ser bonito) é mais do suficiente para convencer quem quer que seja! Nos leading roles, não gosto do Daniel Day Lewis e se emocionalmente gostava de ver o Mr. Clooney no palco, reconheço que Johnny Depp há muito que pede reconhecimento de uma carreira absolutamente sublime e Viggo Mortensen merecia, pela sobriedade, entrega e transfiguração que implicou o seu desempenho em Eastern Promises, levar o homemzinho dourado (e esta percepção não é – apenas - motivada pelos seus lindos olhos azuis…)! Nas senhoras, Cate Blanchett é sem dúvida uma grande actriz a quem não faltarão oportunidades de coleccionar Oscars e Laura Linney merecia ter tido aqui a sua oportunidade. Optaram pela francesa vestida de peixe, escolhas!
6.º No Country for Old Men é o grande vencedor da noite e nós por cá temos que esperar por 5.ª feira para confirmar as escolhas da Academia!
7.º Atonnement merecia mais do que apenas um Oscar. Não o considero um dos filmes da minha vida, mas confesso que também não me parece merecer passar com tamanha sobriedade no maior certame de prémios do cinema.
8.º The Bourne Ultimatum arrecadou 3 Oscars em categorias técnicas provando que se pode fazer acção de muita qualidade e com bastante consistência a nível de argumento.
9.º Falando em argumentos, parece que o mundo do strip convenceu definitivamente Hollywood. E assim se vê que, aos poucos, a Academia vai deixando cair o seu lado mais puritano. Porém não é tão fácil abandonar o seu lado mais previsível e politicamente correcto.
10.º Este ano não tivemos Al Gore nem uma cerimónia tão politizada… sinais dos tempos e do fim da administração Bush!