quarta-feira, fevereiro 10, 2010

9/11




Foram hoje divulgadas fotografias inéditas do ataque ao World Trade Center e da devastação causada pelo seu colapso. Estas fotografias não têm nada que o mundo (todos nós) já não tivesse visto, em directo, naquele 11 de Setembro de 2001. Porém, uma vez mais, interpelam-nos e fazem-nos recordar o horror que então sentimos, perante a imagem da impotência do "gigante de ferro" face ao ataque que sofreu. E isto relembra-nos que a luta contra o terrorismo nunca poderá ser dada por terminada. Todos os dias continuam a morrer pessoas, no Afeganistão, no Paquistão, no Iraque ou na Palestina, vítimas do terrorismo. E num dia normal, igual a todos os outros, num qualquer 11 de Setembro, esse mesmo terror pode entrar na nossa casa, no nosso local de trabalho, no nosso autocarro ou no nosso comboio. Que nunca tenhamos a ousadia de perder a memória.

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Obama não quis dançar ao som dessa música



Obama deu um sinal claro à Europa: ou há substância e liderança, ou não há conversas.

O Presidente dos Estados Unidos não vem à Cimeira de Maio, anunciada com pompa pela Presidência espanhola, e embora invoque, educadamente, impossibilidades de agenda - este ano mais concentrada na política doméstica -, é ponto assente que o Presidente americano não tem qualquer interesse em "falar" com uma UE a três (ou mais) vozes, com a liderança repartida entre Rompuy, Barroso e Zapatero e participar numa Cimeira sem "substância" que justifique a sua realização. Ou seja, Obama percebeu que o único propósito do evento seria oferecer a Zapatero umas boas fotografias ao lado do Presidente dos Estados Unidos, num momento em que a sua popularidade está em franca quebra, e decidiu não fazer parte do show.

Em minha opinião, fez bem. A UE tem que perceber, de uma vez por todas, que esta esquizofrenia institucional de uma presidência tricéfala e a obcessão pelas reuniões, cimeiras e conselhos não é método de trabalho apreciado em qualquer outra parte do planeta, onde se dá mais peso aos resultados do que às meras boas intenções do diálogo.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Oscars

A noção de "exclusividade" faz parte do processo de encantamento. Todos gostamos de fazer parte de um grupo restrito ao qual muitos quereriam pertencer mas onde apenas alguns são admitidos. Com 10 nomeados, a categoria de melhor filme perdeu o encanto. Já não é mais do que um albergue onde cabe qualquer um...

As nomeações

Já se conhecem os nomeados para os Oscars. Sem surpresas, a Academia conseguiu, uma vez mais, ser aquele poço de previsibilidade que conhecemos!

Alguns apontamentos sobre as nomeações:

1. Parece-me que é desta que George Clooney leva a estatueta de melhor actor. O que não acho inteiramente justo, já que não será a sua melhor interpretação. Para mim, fã confessa, ganham, obviamente, as suas interpretações em Syriana e Michael Clayton. Sobretudo no primeiro. Em Up in the Air, Clooney não é mais do que Clooney. O que sendo muito, é pouco, e não chega para o Oscar!

2. Abrazos Rotos, de Almodovar, ficou pelo caminho, assim como a interpretação da musa Penelope. Chega à nomeação por Nine (que ainda não vi), mas ainda não será desta que dará um "irmão" ao seu Oscar!

3. Up, o melhor filme de animação que alguma vez vi, consegue, com todo o mérito, a nomeação para melhor filme. Um feito que há décadas que não acontecia. Pode não ganhar o Oscar de melhor filme, mas pelo menos o de melhor argumento original merece, inteiramente. É verdadeiramente fabuloso como um filme tão simples, para crianças, consegue ser a mais maravilhosa fábula sobre o amor (e a vivência do amor ao longo de uma vida), sem nunca ser piegas, lamechas ou delicodoce. Justíssimas as suas nomeações, todas elas!


A lista completa de todos os nomeados, aqui.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Mais um mártir da liberdade de imprensa

Vale a pena ler aquela que seria a crónica de hoje de Mário Crespo e que não chegou a ser publicada (retirada do site do Instituto Sá Carneiro)


O Fim da Linha

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicacado hoje (1/2/2010) na imprensa.