quarta-feira, julho 29, 2009

O mundo por 200€

O PS, já em plena pré-campanha, propõe uma medida "inovadora" e "fracturante" nas políticas de apoio (incentivo) à natalidade: 200 €, numa conta poupança, por cada criança nascida em Portugal. Tais 200 € poderão ser levantados pela dita criança ao atingir a maioridade.

Pois bem, se o ridículo matasse, João Tiago Silveira teria morrido ao apresentar esta pérola populista. Se pagasse imposto, teríamos solucionado o problema do défice! Vejamos, então, o ridículo da proposta:

Em 2009, 200€ dariam para comprar cerca de 13 pacotes de fraldas ou 16 latas de leite. Nada comparado com o que a criança irá precisar ao longo dos primeiros anos de vida. 200 € dariam, em alternativa, para cerca de 20 peças de roupa (a uma média de 10 € cada, nada de extraordinário) ou o equivalente em brinquedos e jogos. Dificilmente com os 200€ os pais conseguiriam comprar um carrinho de bebé e demais "equipamentos" necessários ao transporte da criança. E isto já para não chegar ao ridículo de dizer que 200€, em muitos casos, não chegariam sequer para pagar um mês de mensalidade do infantário ou ATL.

Assim se vê que, mesmo que o dinheiro fosse dado aos pais, "aqui e agora" como incentivo à natalidade, 200 € de pouco ou nada serviriam como incentivo ao que quer que fosse ou seriam determinantes para a decisão de "contribuir para a natalidade".

Mas a medida é ainda mais perversa do que isto! São 200 € depositados hoje para serem levantados daqui por 18 anos. Ou seja, em 2027 (!). E sobre isso diz o incansável Dr. João Tiago Silveira que a quantia dada em 2009 (acrescida dos juros) será uma ajuda ao início da vida do jovem adulto. Claro!!!!!!

Já hoje 200 € são uma quantia avultada para um "início" da vida ... então em 2027, será uma barbaridade de dinheiro tal que nem sei como vamos convencer esses jovens a querer um dia trabalhar, já que poderão viver apenas dos rendimentos da poupança que lhes deixou o tio Sócrates!

Só podem estar a gozar comigo!!!!!!! É que só podem, mesmo, estar a gozar connosco....

quarta-feira, julho 08, 2009

Agora deve achar que é o Clooney....



Sócrates classificou a legislatura que passou como "a tempestade perfeita". Imagino que nos seus delírios mais loucos Sócrates se veja como o corajoso e destemido Capitão Billy Tyne (George Clooney)... Porém, provavelmente, não viu o filme (ou leu o livro) até ao fim... porque tivera-o feito e sabia que o destino cruel do capitão é sucumbir, impotente, ao poder da tempestade...

Globetrotter



Com saudades de Londres. Com saudades de Edimburgo no Fringe. Com saudades do Mónaco. Com saudades de Cambridge. Com saudades da Eurodisney. Com saudades de Nova Iorque. Com saudades de Berlim. Com saudades de Roma. Com saudades de Bruxelas. Com saudades de Dublin. Com saudades......

Será nostalgia? Será da idade? Ou será apenas, sinal que preciso de férias/férias e não de férias/campanha?

terça-feira, julho 07, 2009

A Burqa e a tolerância, por João César das Neves

Mais irónico é este debate realizar-se à volta de uma questão de vestuário, precisamente o tema onde a liberdade de costumes se começou a expressar na contemporânea. Há cem anos não passava pela cabeça de ninguém que um homem sério saísse à rua sem chapéu e bengala ou que as damas mostrassem o tornozelo. Fardas e uniformes eram omnipresentes em todas as classes. Os filhos dessa geração afirmaram a sua autonomia precisamente pela sua aparência exterior. Cabelos compridos, roupa desalinhada, calças de ganga, minissaias pareceram como combates importantes no caminho da liberdade. Agora os franceses, ao proibirem a burka, pensam estar no mesmo combate. Mas as batalhas antigas eram contra as proibições, não pela imposição de novas proibições.

O problema é mais vasto do que parece. Como Sarkozy com a burka, o Parlamento Europeu e o Governo português estão empenhados há anos em limitar a vida a fumadores, automobilistas, pais e cidadãos com as melhores intenções. Esquecem que todas as ditaduras, mesmo ferozes, sempre se justificaram com o bem dos cidadãos. Salazar, Franco, Mugabe, Chávez e até Hitler, Estaline, Mao e Pol Pot sempre disseram estar empenhados numa sociedade melhor. O mal deles não era cinismo e hipocrisia, nem estava tanto nas finalidades, mas na arrogância e tacanhez que o seu caminho implicava. As tais sociedades ideais nunca apareceram. Só ficou o sacrifício da liberdade.



Curiosamente (ou não) estou em total consonância com JCN no que à "questão" da burqa diz respeito. É precisamente no respeito pela "liberdade" que reside o problema e é pela sua defesa (em todas as ciscunstâncias) que nos devemos bater. Mesmo quando tal defesa nos leva a defender algo que para nós, pessoalmente, seria um absurdo - como é o uso da burqa. Pena é que, noutras questões, JCN não se mostre tão tolerante e defensor da liberdade. Mas este já é um começo.

Jobs for the boys

Outra deputada também candidata a uma câmara, Leonor Coutinho, que tenta roubar ao PSD o município de Cascais, reagiu de forma igualmente crítica. "Como dirigente do partido, não tenho a certeza de que, a reboque do PSD e a meio do jogo, esta seja uma maneira de consolidar as pessoas que concorrem, e muitas vezes se disponibilizaram para combates muito difíceis, muitos em início de carreira", disse à Lusa. "Não acho bem que se mudem as regras a meio do jogo", acrescentou ainda, explicando-se: "Quando apresentei a minha candidatura disse que era perfeitamente compatível o lugar de deputado com o de candidato autárquico, porque se ganha a eleição, obviamente a lei define que o cargo não é compatível, agora um vereador da oposição não tem emprego na câmara, para se dedicar a essa tarefa tem de ter outro emprego."

Naturalmente que acho muito bem que não haja duplas candidaturas. Obviamente, também, que concordo que as regras não se mudam a meio do jogo, sobretudo quando já existem precedentes que põem em causa essa mesma regra (Elisa Ferreira e Ana Gomes). Agora, o que eu acho, verdadeiramente, extraordinário nestas considerações de Leonor Coutinho é o facto de uma deputada da Nação considerar que tal função é um "emprego". E por isso, achar razoável, não largar um "emprego" certo (deputada) por um "emprego" que não sabe se virá a ter (presidente da Câmara de Cascais).

Era bom que alguém, lembrasse a senhora deputada Leonor Coutinho que "não se é deputado, está-se deputado." E que isso de "estar como deputado" é um cargo que se ocupa para servir os interesses do país, e não um "emprego" para as horas vagas de um vereador da oposição.

segunda-feira, julho 06, 2009

Tudo está bem, quando acaba bem....

Vários meses de audições, inquirições e acareações... centenas de documentos, relatórios, ofícios e actas... E tudo indiciava falhas graves de supervisão no caso BPN.

Porém, o relatório final dos trabalhos da Comissão de Inquérito considera que o Banco de Portugal "fez o que estava previsto e que respeitou as linhas orientadoras das melhores práticas de supervisão, tendo em conta ainda as exigências de Basileia".

No país do faz de conta em que vivemos, isto não espanta. Mas deveria. Por isso mesmo, Nuno Melo fala em relatório "politicamente motivado" e faz muito bem, porque é exactamente isso o que se trata. Desperdício terão sido as várias horas perdidas pela dita Comissão, num trabalho que, uma vez mais, deu em nada...

sexta-feira, julho 03, 2009

Cultura à sexta



O Largo do Teatro São Carlos é o epicentro de um festival inédito em Lisboa, reunindo espetáculos musicais, bailado moderno e representação teatral em espectáculos ao ar livre, gratuitos e sempre às 22 horas.

O Festival ao Largo é composto por nove espectáculos musicais, cinco dias de bailado moderno e três produções teatrais. No total, são 18 noites com arte até 19 de Julho. A não perder!

O programa pode ser consultado aqui.

Ainda sobre o "caso Pinho"

Alberto João Jardim, com a sua proverbial capacidade de análise, resumiu assim o episódio dos "corninhos" no Parlamento:

quinta-feira, julho 02, 2009

O caso dos "cornos" do Ministro Pinho



Actualização: o Ministro faz "cornos" na Assembleia da República mas não acha que haja motivo para se demitir pelo menos "enquanto safar postos de trabalho". Tudo ao "nível".

Assim vai o Estado da Nação



O PM em histeria. O Ministro Pinho a fazer "corninhos"... tristes imagens do desGoverno a que chegámos.



Nota: Excelente o discurso de Paulo Rangel, mas muito na "linha CDS" (economia, agricultura, educação).

Pinóquio

Sócrates sabe bem que a sua maior fragilidade é a percepção generalizada de que o Primeiro Ministro foge, sistematicamente, à verdade. Ou, por palavras menos eufemisticas, Sócrates é mentiroso.

O PSD percebeu, e bem, esse problema e lançou o mote da sua "Política de Verdade". Para isso muito contribui a imagem da Presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite, austera, honesta e rigorosa.

A primeira reacção do PS foi atacar o estilo de MFL e tentar convencer os portugueses de que tanto rigor e austeridade não eram solução. Porém, ao perceber que a mensagem não estava a passar e que MFL começava a ser percepcionada como alternativa a Sócrates, o PS decidiu agora passar ao ataque e tenta colar a Manuela Ferreira Leite o mesmo rótulo que Sócrates tem estampado por todo o lado: mentiroso.

É neste contexto que surge a suposta história da venda da rede fixa da PT. Porém, só um cego não vê a evidência: não há aqui qualquer falta de verdade, qualquer tentativa de manipulação ou qualquer acção do governo PSD-CDS que se assemelhe, ainda que de forma ténue, à tentativa descarada do PS comprar o "passe" de Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz por 150 milhões de euros!

A ver vamos por onde vai esta "campanha negra" do PS contra Manuela Ferreira Leite... de qualquer modo já não há dúvidas de que vamos ter um verão muito quente...

quarta-feira, julho 01, 2009

A burqa e os complexos ocidentais




Em França reacendeu-se a polémica da burqa com o Presidente Sarkozy a dizer que o seu uso não é "bem vindo em França". Sustenta o presidente francês, e os apoiantes da ideia de restringir o uso da burqa, que esta põe em causa os princípios da igualdade e da liberdade e é sinónimo da inferiorização da mulher, pondo em causa a sua dignidade.

Compreendo, em parte, as razões de Sarkozy e reconheço que o fenómeno da "expansão" do uso da burqa, a que assistimos um pouco por toda a Europa, é algo quase chocante para um ocidental. Mas a verdade é que, desde que seja uma escolha livre de quem a usa, a burqa é ela própria uma manifestação da liberdade religiosa e de pensamento.

Por esse motivo, entendo que a mulher islâmica, vivendo ou não em França, deve ter a liberdade de conformar o seu comportamento a todos os preceitos religiosos que não constituam um impedimento para a vida em sociedade nem se consubstanciem na prática de um crime. Ora, o uso da burqa não atenta contra qualquer valor social digno de protecção jurídica, nem é um crime. Deste modo, não há motivo para um Estado, ainda que laico, discutir sobre a sua admissibilidade. Porque, se acharmos que França pode, hoje, proibir o uso da burqa teremos que, amanhã, concordar com qualquer Estado que entenda proibir o uso de qualquer símbolo religioso incorporado no vestuário (ou simplesmente proibir uma qualquer particular forma de vestir), o que não me parece razoável.

Mais importante, parece-me, seria os Estados não perderem o seu tempo com o uso da burqa e preocuparem-se com outros direitos das mulheres islâmicas, esses sim muitas vezes postos em causa por preceitos religiosos, como seja o seu direito à educação, ao acesso à cultura ou à auto-determinação sexual.

Vale a pena ler

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:

- É sempre assim, esta auto-estrada?

- Assim, como?

- Deserta, magnífica, sem trânsito?

- É, é sempre assim.

- Todos os dias?

- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.

- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?

- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.

- E têm mais auto-estradas destas?

- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.

- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?

- Porque assim não pagam portagem.

- E porque são quase todos espanhóis?

- Vêm trazer-nos comida.

- Mas vocês não têm agricultura?

- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.

- Mas para os espanhóis é?

- Pelos vistos...

Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:

- Mas porque não investem antes no comboio?

- Investimos, mas não resultou.

- Não resultou, como?

- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.

- Mas porquê?

- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.

- E gastaram nisso uma fortuna?

- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...

- Estás a brincar comigo!

- Não, estou a falar a sério!

- E o que fizeram a esses incompetentes?

- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.

- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?

- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.

Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.

- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?

- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.

- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?

- Isso mesmo.

- E como entra em Lisboa?

- Por uma nova ponte que vão fazer.

- Uma ponte ferroviária?

- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.

- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!

- Pois é.

- E, então?

- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.

Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.

- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...

- Não, não vai ter.

- Não vai? Então, vai ser uma ruína!

- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.

- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?

- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!

- E vocês não despedem o Governo?

- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...

- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?

- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.

- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?

- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.

- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?

- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.

Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:

- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?

- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.

- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?

- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.

- Não me pareceu nada...

- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.

- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?

- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.

- E tu acreditas nisso?

- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?

- Um lago enorme! Extraordinário!

- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.

- Ena! Deve produzir energia para meio país!

- Praticamente zero.

- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!

- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.

- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?

- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.

- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?

- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.

Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:

- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?

- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.

Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:

- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!

Miguel Sousa Tavares, Expresso

Sweden 2009



Começa hoje a Presidência Sueca do Conselho Europeu, tendo a difícil tarefa de não deixar morrer o Tratado de Lisboa. Na agenda de prioridades estabelecida pelo governo Sueco estão ainda assuntos tão diversos e complexos como o combate à crise económica, o desemprego, as alterações climáticas e o Programa de Estocolmo sobre justiça e assuntos internos.

Eu, que durante a Presidência Portuguesa fui "sueca" algumas vezes, não poderei deixar de acompanhar com especial atenção os próximos 6 meses da vida da Europa.