domingo, fevereiro 24, 2013

Oscars





Longe vão os tempos em que me dava ao luxo de ficar acordada uma noite inteira para ver a cerimónia da entrega dos Oscars! A idade e as obrigações não perdoam e, por isso, amanhã lá acordarei para saber quem foram os vencedores, para comentar os vestidos e, com sorte, à noite verei um qualquer resumo da cerimónia, entretanto disponível online.


Mas como noite de Oscars é noite de Oscars, aqui ficam as minhas previsões e comentários.

Melhor filme: vai ganhar o Argo, mas devia ser o Django.

Melhor actor: Daniel Day-Lewis, obviamente...

Melhor actriz: temo que a escolhida seja Jennifer Lawrence, com o fraquíssimo Silver Linings Playbook.

Melhor actor secundário: é que só poder ser Christoph Waltz!

Melhor actriz secundária: isto de cortar o cabelo e cantar umas coisas ainda convence muita gente, pelo que Anne Hathaway levará a estatueta para casa.

Melhor realizador: Tarantino nem é nomeado, Ben Affleck também não, pelo que ou vem daqui uma surpresa ou será Spielberg, mais uma vez.

Melhor filme estrangeiro: parace-me que só há Amour por aqui!


Nota: alguém ainda me vai explicar o fascínio que se gerou à volta do Silver Linings Playbook, porque eu de todo que não compreendo.

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Homossexualidade e Igreja

A propósito da homossexualidade na Igreja, duas coisas: (1) parece-me que é tão grave um padre ser homossexual como ser heterossexual. Só por si, tal não significa nada. E se acharmos que significa, estamos já a partir do pressuposto que os homossexuais (só por o serem) têm mais tendência para comportamentos desviantes e ilícitos do que os heterossexuais. (2) Outra coisa, completamente diferente, é a história de eventuais crimes sexuais praticados por padres, heterossexuais ou homossexuais, (crimes especialmente graves quando se tratar de abuso de menores ou de pessoas especialmente vulneráveis) os quais devem ser adequadamente investigados e punidos como o devem ser todos os crimes do mesmo género cometidos por qualquer cidadão. E já agora, uma terceira nota: (3) a árvore não faz a floresta e não se deve tomar a parte pelo todo, pese embora o todo deva, também, fazer a sua parte de limpar a floresta. That's all.

terça-feira, fevereiro 12, 2013

Bento XVI

A renúncia de um Papa é algo que nos deve fazer parar e pensar. A quente, o meu único pensamento era a perplexidade. Perplexidade com um gesto tão inesperado e tão pouco habitual (não apenas na Igreja, mas um pouco por todo o lado) que nos deixa chocados, num primeiro momento, e espantados num segundo.

Porém, saber sair, sempre me ensinaram, é uma virtude. Sair bem, com dignidade. Sair quando é altura própria, de forma serena e tranquila. Sair, quando ficar já de nada serve. E é este o ensinamento de Bento XVI, ao sair, de uma forma que é profundamente racional e genuinamente humana. 

Mas como conciliar esta sua saída com o extraordinário exemplo de fé, de entrega e de luta de João Paulo II? O Papa que nos mostrou o seu sofrimento, que expôs a sua doença e a viveu connosco, sem vacilar na fé e sem tremer no seu ministério? Muitas vezes comparo o Papa João Paulo II e a sua particular forma de luta contra um inimigo tão traiçoeiro, quanto poderoso (a doença de Parkinson) com o meu avô. Morreram com um intervalo de 1 ano e viveram de forma muito parecida a mesma doença: sem resignar, sem condescender, sem desistir. Em funções e com responsabilidades muito diferentes, naturalmente, reconheço-lhes a mesma fibra e a mesma determinação em serem exemplares: perante eles próprios (primeiro), perante os outros e perante Deus. Daí talvez o carinho que sinto pelo homem que não conheci, mas no qual encontrava os traços daquele que me ajudou a crescer.

João Paulo II deu-nos o seu exemplo de dedicação e entrega absoluta (totus tuus). Mostrou-nos a face da velhice, da doença e do sofrimento, mas também a face da perseverança, da esperança e da fé. O seu exemplo, também na forma como viveu a doença, como Papa, ficou dado e as suas imagens, curvado e trémulo, ficarão para sempre na nossa memória, como um enorme testemunho de grandeza. 

Mas será preciso um segundo exemplo desta mesma natureza? Talvez não. Talvez o que seja preciso seja a profunda racionalidade de Bento XVI para admitir que a Igreja tem que mudar. E não o faz com uma carta apostólica ou com uma encíclica mas, uma vez mais, com o exemplo. O seu exemplo. O exemplo de um homem a quem a fé o aconselharia a continuar, mas a quem a razão alerta para a "certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para  administrar bem o ministério que me foi confiado". 

E é por esta sua frieza racional aliada a uma extraordinária profundidade espiritual que acredito que a Igreja, depois de Bento XVI, não voltará a ser a mesma. Não sei que caminho irá seguir, mas sei que não poderá voltar atrás agora que um imenso passo em frente foi dado. Para o bem, ou para o mal.

Possivelmente aquele que era temido como o "Papa conservador" ficará, afinal, na história como um homem contemporâneo e um racionalista que abriu as portas da Igreja ao século XXI.