1. Indo às
capitais de distrito, o PS perdeu câmaras importantes para o PSD (Guarda e Braga)
e outras para a CDU (Évora e Beja). Ganhou Coimbra e Leiria, mas não conseguiu ganhar
as câmaras de Santarém e de Faro ao PSD. Foi brilhante? Longe disso.
2. Em Lisboa, a vitória estrondosa de António Costa é a de uma candidatura que, ouvi repetir várias vezes ontem, é PS+. É do PS sim, mas é mais do que isso. É dos independentes e é da oposição a António José Seguro (cometesse ele os erros primários da direcção do PSD e outro teria sido o candidato em Lisboa). É sintomático que a vitória mais evidente do PS seja a do adversário do actual líder (o qual não vi passar pelo Altis). É sintomático que o discurso de vitória de Costa seja mais nacional do que local. Se eu fosse Seguro estaria preocupado.
3. No Porto o PS não conseguiu, sequer, capitalizar a divisão das hostes de Direita entre as candidaturas de Menezes e de Rui Moreira. O PS foi reduzido à sua insignificância na segunda cidade do país, quando tinha a mais do que evidente obrigação de ganhar.
4. Gaia e Sintra
são mais dois tristes exemplos da vitória de pirro do PS. Os candidatos do PSD
somados (havia dois em cada um dos municípios) têm mais votos do que os
socialistas agora eleitos presidentes da Câmara. Será preciso dizer mais?
Tudo isto nos
leva à segunda grande questão: foi a derrota do PSD assim tão grande? Foi e não
foi.
1. Foi enorme,
gigantesca mesmo, a derrota de um certo PSD. O PSD das escolhas erradas, dos "meninos
do chefe", dos "trânsfugas municipais". Com isso perderam Sintra
e Gaia. E o Porto também. No distrito de Lisboa o PSD ficou reduzido a duas
câmaras. Muito curto para sustentar as clientelas. No Porto o terceiro lugar de
Menezes e o desaire em Gaia deviam ter consequência. Resta saber se soprarão ventos
de mudança nas distritais do PSD.
2. Mas, se
pensarmos que o PSD está no Governo há 2 anos, a levar a cabo um programa de
ajustamento duríssimo e a aplicar medidas muito pesadas aos Portugueses, e
depois olharmos para o mapa autárquico, vemos que a derrota não é avassaladora.
Ou melhor, a vitória do PS ao não o ser, verdadeiramente, atenua (e muito) os
estragos causados ao PSD.
3. Concluo,
assim, que o PSD foi mais penalizado pela sua inábil gestão autárquica e pelas
suas escolhas infelizes do que pela governação. Os eleitores não deram uma
vitória ao PS. Os eleitores castigaram as más escolhas do PSD nos seus
concelhos. Tivesse o PSD feito uma inteligente gestão autárquica e hoje a
situação poderia ser bem diferente.
Mas resumir as
autárquicas a PSD e PS é curto. Porque relativamente ao CDS, PCP e BE há bem
mais a notar.
1. O CDS foi um
dos claros vencedores da noite. Aumentou o número de Câmaras (quintuplicou,
mais exactamente), aumentou o número de mandatos autárquicos, manteve-se nas
coligações que entendeu serem projectos de continuidade e soube distanciar-se
da desastrosa candidatura de Menezes no Porto. O que o PSD teve de inabilidade,
o CDS teve de inteligência na gestão do dossier autárquico e foi premiado por
isso.
Se a coligação
governamental foi penalizada, como o PS e a esquerda em geral nos querem fazer
crer, como explicar o sucesso do CDS, ao apresentar-se com o seu símbolo e as
suas cores e, ainda assim, a conquistar 5 Câmaras? E o sucesso de tantas das
coligações PSD+CDS por esse país fora?
2. O segundo
vencedor da noite foi o PCP. Recuperou espaço (à custa do PS, convém recordar,
não vá algum leitor mais distraído achar que foram roubar votos à direita
directamente!) e reconquistou o Alentejo. Pela primeira vez o discurso de
vitória não soou a falso. Algum dia tinha que acontecer
3. Nota
fundamental: o BE foi varrido do mapa. Perderam a única câmara que tinham e não
conseguiram eleger vereadores nem em Lisboa, nem no Porto. Um desastre
colossal. Uma hecatombe muito maior do que aquela que disseram ter sido imposta
aos partidos do Governo! É a vida, e a do BE não está fácil...
Análises dos
partidos à parte, uma nota à vitória de Rui Moreira no Porto. É a vitória das
contas certas e da seriedade. É também uma extraordinária vitória de Rui Rio
que ganha pontos no PSD (tal como António Costa no PS). Distanciou-se da actual
direcção, manteve-se atento e cauteloso e ontem decerto que teve motivos para
sorrir. Resta saber o que irá fazer com o capital acumulado.
Resumindo, ficam
6 conclusões: (1) o PSD pagou o preço das suas más escolhas; (2) os eleitores
castigaram os candidatos salta-pocinhas; (3) o PS não soube (ou não pode)
capitalizar as inúmeras fragilidades do seu adversário mais directo e construir
uma verdadeira vitória; (4) o BE foi pulverizado de uma forma exemplar,
demonstrando que o seu discurso já não encanta ninguém; (5) o Porto deu, mais
uma vez, um excelente exemplo de independência e de liberdade; e (6) os líderes
do PSD e do PS passam a dormir menos descansados.
Quanto a leituras
nacionais é tudo. Depois há Oeiras...