A Decisão

Jorge Sampaio decidiu, e, na minha opinião, decidiu bem. Muito embora, tarde! A decisão de Sampaio prova que não havia crise política alguma, apenas uma ‘passagem de testemunho’ do antigo líder ao novo líder do PSD. Mas a sua atitude durante 15 dias foi exactamente a contrária: criou, alimentou e ‘mimou’ a crise, qual pai extremoso, para depois cruelmente a afogar no primeiro banho!
A mensagem do Presidente foi clara e elaborada. Disse que chamaria o PSD a formar novo Governo, com o CDS, em nome da estabilidade, da retoma e do seu próprio entendimento dos poderes presidenciais. Depois, como tinha que tornar um bocadinho mais amargo este rebuçado que acabava de dar à maioria (para adocicar as coisas à esquerda!) veio com a conversa de que mantinha todos os seus poderes (veto e dissolução) e que estava vigilante. Lembrou que não era um notário mas um garante da democracia e do normal funcionamento das instituições e exigiu ao novo Governo um compromisso sério com os principais eixos da política do XV Governo Constitucional – Defesa, Justiça, Finanças Públicas e Negócios Estrangeiros.
Curioso não???? Pois bem, desmontemos (qual criança entretida com os seus legos!) estas afirmações:

1ª ideia de força «Dou-te agora um ‘chupa-chupa’ gigante mas posso tirar-to se te portares mal» É a típica afirmação de força dos papás e qualquer criança sabe que o momento crucial é conseguir o chupa-chupa, o resto é conversa do pai ou da mãe para mostrar que, ainda assim, manda qualquer coisa e que nos pode tirar o chupa-chupa se para tal dermos motivos. Mas pensemos lá bem, nós fizemos uma birra monumental para conseguir o chupa-chupa, chorámos, berrámos, atirámo-nos para o chão, esperneámos (se calhar até levámos uma palmada), e vamos agora deitar tudo a perder quando finalmente conseguimos o tão desejado chupa-chupa? Nenhuma criança é assim tão tonta!!!! Além de que se conseguimos o mais (que os pais nos dêem o chupa-chupa) não conseguiremos o menos (que eles nos deixem ‘comê-lo’ até ao fim)???? Claro que esta frase é a típica manifestação de força inócua a que qualquer criança até acha graça! No fundo foi isso que fez o Presidente para delícia de Santana Lopes que se pode lambuzar à vontade no seu ‘chupa-chupa’ gigante em forma de Governo!

2ª ideia de força «Eu zanguei-me com vocês por terem desarrumado os brinquedos mas agora exijo que, escrupulosamente, mantenham a desarrumação tal como está.» É verdade, o PR andou dois anos a falar mal da política orçamental da Drª Ferreira Leite; a mandar recados à Drª Celeste Cardona na abertura do ano judicial; a imiscuir-se nas opções do Dr. Paulo Portas no Ministério da Defesa e, no final de contas era tudo mentira! No fundo (bem lá no fundo) ele até gostava das políticas deste governo e considera-as correctas, adequadas e necessárias! Só assim se justifica que exija, agora, a continuidade dessas mesmas políticas e o respeito pelo Programa de Governo apresentado em 2002 pelo Dr. Durão Barroso. Então para quê aqueles discursos balofos no 25 de Abril ou na Ordem dos Advogados e os recados mal dispostos no Dia das Forças Armadas? Era tudo show off? Pelos vistos... Daqui em diante Sampaio assume o papel de garante do cumprimento do Programa de um Governo que não apoiou, formado por partidos a que não pertence e contra o qual falou durante dois anos! Melhor é impossível!

3ª ideia de força «Tá bem Pedrinho, eu deixo-te brincar na piscina, mas atenção aos amigos que trazes para casa!» Foi esta a terceira mensagem do PR a Santana Lopes, indigita-o Primeiro Ministro mas afirma que tem uma palavra a dizer sobre os Ministros que ele irá escolher! Parece surreal... o Presidente teve a ‘bomba’ (dissolução) na mão, não a usou, e ia agora começar aos tiros aos pombos (veto a Ministros)? Não me parece! Se confiou em Pedro Santana Lopes para ser Primeiro Ministro tem naturalmente que confiar nas suas capacidades para o cargo. A primeira dessas capacidades será a de escolher os seus Ministros! Esse é o primeiro desafio de Santana Lopes Primeiro Ministro! E Sampaio não está em condições de impor nada! Confiou em Santana Lopes (o que, segundo todos os analistas era o mais difícil) e agora terá que confiar no seu discernimento e escolhas! Quem permite o mais aceita o menos...

Basicamente foi isto que entendi que o Presidente disse e que, posto em linguagem mais simples quer dizer: «Pedrinho, isto de ter que usar a autoridade é muito aborrecido, por isso fica com a casa, com a piscina, com os brinquedos e com o chupa-chupa, mas por favor não faças muita bagunça, caso contrário, quando voltar, a mãe ainda se zanga comigo!» Será que percebi bem????