Anne Frank, se fosse viva, faria hoje 77 anos. Podia ser perfeitamente uma pacata senhora alemã, igual a tantas outras, a viver em Frankfurt am Main, a fazer Apfelstrudel aos domingos para a família e a escrever livros de histórias para os netos.
Mas Anne Frank morreu, em Março de 1945, com 16 anos, no campo de concentração de Bergen-Belsen, tornando-se o símbolo vivo e real de um Holocausto que muitos ainda hoje negam.
Eu confesso que li o Diário de Anne Frank com 13 anos e que foi um livro que me marcou pela sensação estranhíssima que era saber que aquela miúda, da minha idade, tinha passado pela guerra, pela vida no anexo, pelo medo de ser descoberta e enviada para um campo de concentração, e ainda assim tinha os mesmos pensamentos que qualquer rapariguinha daquela idade: os actores, os filmes, as aventuras, os amores platónicos, os problemas de comunicação com os adultos, os estudos... enfim, ela era real, tinha existido mesmo e nada naquele diário era ficção.
Também por essa altura visitei pela primeira vez a casa de Anne Frank em Amsterdão e mais uma vez foi chocante ter a sensação física de que tudo aquilo existira e era real. Uma sensação brutal que o passar dos anos não atenuou. Quando agora revisitei a casa, o anexo secreto, ao espreitar o campanário pela janela, ao ver as fotografias do Clark Gable e do «Gone with the wind» nas paredes daquele que era o quarto da Anne Frank, voltei a sentir o mesmo murro no estômago, a mesma sensação de desconforto e revolta por aquilo que Homens foram capazes de fazer a outros Homens.
Anne Frank, para mim, mais do que a imagem de um povo perseguido (porventura a melhor imagem possível) simboliza a força da esperança e da alegria perante a mais dura das advercidades. A tenacidade e a vontade de lutar que só se apagou quando ela acreditou que já não valia a pena continuar... quando ela pensou que já não tinha ninguém por quem se manter viva... quando ela achou que não havia já qualquer esperança fora daquele campo.
Poucos dias, porém, após a sua morte Bergen-Belsen era libertado... Anne Frank quase conseguiu, mas não viveu para ver como o seu maior sonho haveria de se concretizar: tornar-se escritora com a publicação do seu diário.
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