Há dias, como hoje, em que eu teria todos os motivos para estar mal disposta... mas não estou!
Apesar de estar de férias (para estudar, mas ainda assim férias...), tive que acordar cedo porque às 10.30 tinha um julgamento (segunda data, já que na primeira o arguido tinha faltado). Diligentemente (ainda que a contra-gosto) lá me dirigi eu ao Palácio da Justiça, Tribunal de Pequena Instância Criminal, 1.º Juízo, 1.ª Secção a ver se era desta que o "meu" oficioso aparecia. Não foi! Primeira chamada, segunda chamada e nada! Pergunto ao oficial de justiça o que fazer ao que ele me diz "Oh doutora, aguarde".
Detesto este tratamento por "doutora"... como se eu fosse apenas mais uma servente da justiça não individualizável, a soldo do Estado, sem identidade ou coração, que está ali a fazer corpo presente e a pedir justiça no momento oportuno. (Eu sei que era impossível o oficial de justiça decorar o meu nome, já que por dia trata com dezenas ou centenas de advogados, mas ainda assim, inconscientemente, continuo a achar que me deveriam tratar por Beatriz).
Posto isto, e sabendo que nada me resta para além de esperar, tiro um café da máquina para enganar o sono, sento-me num dos bancos corridos do PIC e ligo o meu Creative a ver se as músicas me animam a manhã... mas só as calminhas, porque dançar no corredor no Tribunal não seria adequado!
Finalmente lá sou chamada ao Gabinete do Senhor Juiz. Já o conheço de outros julgamentos e, a bem da verdade, o senhor é tão simpático que nos faz perdoar a demora na chamada! A conversa é a do costume: «Sabe Doutora, não conseguimos contactar o arguido, não existe morada conhecida e as diligências da PSP ainda não deram qualquer fruto... assim sendo, temos que agendar nova data». Como eu não me oponho e até estou de sorriso queridinho, o juiz faz uma piada «Ainda vai calhar no próximo mundial!» Ao que eu digo, com a maior benevolência possível «Quatro anos não será muito tempo? Nem em Portugal os Tribunais podem estar tão atrasados!» Lá fica então acordado que o julgamento passa para Março de 2007. Por essa altura, penso eu, já não serei estagiária e provavelmente não irei sequer fazer tal julgamento, mas por agora, é "na boa". Mais dois dedos de conversa, sobre o futebol, já que o juiz gosta da "bola" e lá me venho embora de mais uma manhã ultra-produtiva no PIC...
De regresso a casa, usando os transportes públicos da nossa cidade, espero 35 minutos por um autocarro na Bramcamp (dos 4 que ali param, os 4 serviam o meu destino final). Finalmente lá vem o chato 27, que entre as voltinhas da Lapa demora cerca de meia hora a fazer um percurso que de outro modo se faz em 10 minutos... Mas enfim, é o autocarro que temos e hoje não é dia para estar mal disposta!
Finalmente em casa, tenho a Deontologia e os Processos (Civil e Penal) à minha espera (salvo seja!), e a Inês a desafiar-me para mais uma tarde de estudo em Belém... mas lá está, hoje estou demasiado bem disposta para me ir enfiar numa Biblioteca a estudar o que de mais medonho Deus ao mundo deitou!
Enfim, há dias que nada consegue estragar... nem o Direito ou o livro de deontologia!
2 comentários:
blog interessante.humor inteligente, espirituoso...muito bom..está já nos meus favoritos...
Post-scriptum ( não gosto de certos acrónimos..)-boa sorte para os exames!
Mas tão bem disposta que ela está hoje!!! Love is in the air???.. ;)
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