O filme «An Inconvenient Truth», de Al Gore, consegue ser, ao mesmo tempo, um murro no estômago e um enorme embuste.
Murro no estômago porque mostra, de forma muito crua, algumas das consequências e impactos negativos que a nossa acção pode ter no equilíbrio do planeta, e o que isso pode vir a significar num período de tempo não muito longo - alterações climáticas, degelo, aumento do número e da intensidade das catástrofes naturais, entre outras consequências nada animadoras.
Enorme embuste porque para falar de alterações climáticas e aquecimento global, e sobretudo para realçar a importância do tema do Desenvolvimento Sustentável e do Ambiente, não é preciso entrar no jogo da demagogia e do anti-bushismo militante, em que por vezes se cai ao longo do documentário.
Confesso que vi o filme com os olhos de alguém que, não sendo eco-cêntrica, tem uma forte preocupação ambiental e está, de certa forma, informada e consciente dos riscos e das consequências que o mau uso (ou o uso ilimitado) dos recursos pode ter no equilíbrio da Terra. E, mesmo assim, saí da sala bem mais preocupada do que entrei e talvez mais consciente de que é preciso fazer mais alguma coisa. Mas saí, também, muito irritrada com a história de se deitarem as culpas do aquecimento global para cima da Administração Bush, quando foi durante a Administração Clinton (na qual o mesmo Al Gore era Vice-Presidente) que se tomou a decisão política de não submeter o Protocolo de Kyoto ao Senado para ratificação. Não quero com isto isentar de culpas a actual Administração, que as tem, na medida em que também ela continua a não ratificar o Protocolo. Porém as verdades inconvenientes têm, de facto, duas faces e não são apenas culpa de um dos lados do tabuleiro político!
No entanto, e apesar de panfletário, numa espécie de arranque para o Al Gore 2008, recomendo que se veja o filme, pelo bom que tem enquanto análise científica séria, mas tendo, obviamente, em atenção que é um filme de propaganda política e não apenas um documentário acéptico sobre o aquecimento global.
Sobretudo recomendo que se veja o filme e se perceba que, ao lado do terrorismo, o ambiente e a energia, são dois dos mais fundamentais issues da humanidade neste novo milénio e que a forma como lidarmos com ambos, através de uma maior consciencialização ambiental e uma maior eficiência energética, será determinante para o nosso futuro colectivo. Porque como muito bem lembra o documentário, se o terrorismo é uma enorme ameaça, a destruição do planeta ou uma crise energética sem precedentes podem ter consequências igualmente devastadoras. É com este novo quadro de riscos globais que temos que lidar e para isso é preciso perceber que estes riscos existem. E é nesse ponto que o documentário cumpre o seu papel.
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