Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de...,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!»
Excerto, "Ode Triunfal", Londres, Junho de 1914
Álvaro de Campos (1890 - 1935) é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa, a par com Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares e aquele que teve uma vida poética mais intensa e mais rica.
Sobre ele escreveu Pessoa: «Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inactividade.»
Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra.
Primeiro conheceu a fase decadentista (influenciado pelo simbolismo), mas logo adere ao futurismo. Nesta o poeta exprime, através da sua poesia, a inebriante experiência das sensações, com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias. É o elogio ao progresso e à modernidade e a confiança absoluta na técnica. São desta fase uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da evolução e industrialização da Humanidade, como sejam a Ode Triunfal e a Ode Marítima.
Entra então o poeta, nos últimos anos, numa fase profundamente intimista que é conhecida como fase abúlica, e que se assemelha muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do próprio Pessoa ortónimo e à obra de Mário de Sá Carneiro: é a desilusão com a vida, a saudade da infância, o desprezo pelas coisas do mundo e a constante náusea de viver expressa nos versos «o que há em mim é sobretudo cansaço».
Sobre ele escreveu Pessoa: «Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inactividade.»
Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Entre todos os heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra.
Primeiro conheceu a fase decadentista (influenciado pelo simbolismo), mas logo adere ao futurismo. Nesta o poeta exprime, através da sua poesia, a inebriante experiência das sensações, com uma linguagem eufórica onde abundam as onomatopeias. É o elogio ao progresso e à modernidade e a confiança absoluta na técnica. São desta fase uma série de poemas de exaltação do Mundo moderno, do progresso técnico e científico, da evolução e industrialização da Humanidade, como sejam a Ode Triunfal e a Ode Marítima.
Entra então o poeta, nos últimos anos, numa fase profundamente intimista que é conhecida como fase abúlica, e que se assemelha muito, sobretudo nas temáticas abordadas, à obra do próprio Pessoa ortónimo e à obra de Mário de Sá Carneiro: é a desilusão com a vida, a saudade da infância, o desprezo pelas coisas do mundo e a constante náusea de viver expressa nos versos «o que há em mim é sobretudo cansaço».
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