Cultura à sexta
«Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
(...)
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos de alma que,desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém... »
Mário de Sá-Carneiro, um dos meus poetas portugueses de eleição, foi um dos grandes expoentes do Modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros do Grupo do Orpheu, do qual faziam também parte Fernando Pessoa, Amadeo de Souza Cardoso, Santa Rita Pintor e Almada Negreiros.
Marcado por uma personalidade histriónica e depressiva, Mário de Sá Carneiro usava a sua obra literária para mostrar ao mundo o que se passava na sua complexa cabeça, falando muitas vezes de si como se de um estranho (ou por vezes monstro) se tratasse.
Na fase inicial da sua obra, Mário de Sá-Carneiro revela influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo e o saudosismo, então em franco declínio. Posteriormente, por influência de Pessoa, viria a aderir a correntes de vanguarda, como o interseccionismo, o paulismo ou o futurismo.
Nessas pode mostar de forma muito impressiva a sua personalidade, sendo notória a confusão dos sentidos, o delírio, quase a raiar a alucinação, revelando, ao mesmo tempo, um certo narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a dispersão que sentia do seu «eu» no mundo – revelando a mais profunda incapacidade de se assumir como adulto consistente.
O narcisismo, motivado certamente pelas carências emocionais, levou-o ao sentimento da solidão, do abandono e da frustração, plasmado numa poesia onde surge o retrato de um inútil e inapto. A crise de personalidade levá-lo-ia, mais tarde, a abraçar uma poesia onde se nota o frenesim de experiências sensórias, pervertendo e subvertendo a ordem lógica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver aquilo que sonhava ("um pouco mais de sol - e fora braza"), sonhando por isso cada vez mais com a aniquilação do eu, o que acabaria por o conduzir, em última análise, ao seu suicídio.
Suícidou-se, com apenas 26 anos, em Paris, no Hotel de Nice com 5 frascos de estricnina, tornando realidade um verso de um dos seus poemas: «Em Paris, é preferível, por causa da legenda...»
Marcado por uma personalidade histriónica e depressiva, Mário de Sá Carneiro usava a sua obra literária para mostrar ao mundo o que se passava na sua complexa cabeça, falando muitas vezes de si como se de um estranho (ou por vezes monstro) se tratasse.
Na fase inicial da sua obra, Mário de Sá-Carneiro revela influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo e o saudosismo, então em franco declínio. Posteriormente, por influência de Pessoa, viria a aderir a correntes de vanguarda, como o interseccionismo, o paulismo ou o futurismo.
Nessas pode mostar de forma muito impressiva a sua personalidade, sendo notória a confusão dos sentidos, o delírio, quase a raiar a alucinação, revelando, ao mesmo tempo, um certo narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a dispersão que sentia do seu «eu» no mundo – revelando a mais profunda incapacidade de se assumir como adulto consistente.
O narcisismo, motivado certamente pelas carências emocionais, levou-o ao sentimento da solidão, do abandono e da frustração, plasmado numa poesia onde surge o retrato de um inútil e inapto. A crise de personalidade levá-lo-ia, mais tarde, a abraçar uma poesia onde se nota o frenesim de experiências sensórias, pervertendo e subvertendo a ordem lógica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver aquilo que sonhava ("um pouco mais de sol - e fora braza"), sonhando por isso cada vez mais com a aniquilação do eu, o que acabaria por o conduzir, em última análise, ao seu suicídio.
Suícidou-se, com apenas 26 anos, em Paris, no Hotel de Nice com 5 frascos de estricnina, tornando realidade um verso de um dos seus poemas: «Em Paris, é preferível, por causa da legenda...»
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