sexta-feira, outubro 05, 2007

Cultura à sexta



«A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete

Assim começa a obra, «Os Maias - episódios da vida romântica», de Eça de Queiroz, abrindo o apetite para as mais de 600 páginas de narrativa densa, na qual a história da personagem principal, Carlos Eduardo da Maia, se entrelaça com os episódios da vida romântica, onde o autor se permite a crítica social ao ambiente e aos costumes da época, algo que Eça fazia como nenhum outro autor do realismo!

«Os Maias» mais do que uma história sobre o amor impossível e trágico de Carlos e Maria Eduarda é um retrato fabuloso de um certo Portugal elitista e balofo, ao mesmo tempo que profundamente provinciano e tacanho, que Eça, com a sua exemplar escrita, não poderia deixar de expor, com todos os seus vícios e falhas, como faz magistralmente nos episódios, por exemplo, do Sarau no Teatro da Trindade, das Corridas de Cavalos no Hipódromo de Belém ou do Jantar no Hotel Central, todos eles momentos em que as personagens centrais se cruzam com 'figurantes' que representam a suposta elite cultural, social e política do Portugal da Regeneração.

Acresce que, para além da crítica social e da intriga principal, «Os Maias» atravessam 67 anos da história de Portugal, começando nos tempos do absolutismo em que Caetano da Maia (bisavô) vivia e acabando em 1887, em época de pré Bancarrota e Ultimatum, quando Carlos e João da Ega, já apresentados como dois "vencidos da vida" percorrem o Chiado e os Restauradores e percebem que Portugal estava velho e decrépito, envolto em brumas. É um Portugal que, na óptica de João da Ega, a voz crítica dentro da obra, vive da aparência e da imitação do estrangeiro, mas que não conhece a modernidade nem anseia por ela. Desta forma Eça de Queiroz acompanha praticamente todo o século XIX Português, fazendo d' «Os Maias» um verdadeiro documento histórico e testemunho de uma época.

«Os Maias» foram pela primeira vez publicados em Junho de 1888, em dois volumes, permanecendo até hoje como um dos grandes títulos da narrativa portuguesa, e hoje em dia podem ser facilmente descarregados da Internet, provando que as grandes obras não apenas resistem ao tempo e às tecnologias como as acompanham!

Um comentário:

Anônimo disse...

Tu sabes q eu apaixonei-me para sempre pelos Maias.