Portugal só aquece politicamente para discutir a esfera íntima do 'sujeito privado' (aborto, eutanásia). A esfera do 'cidadão público' é debatida com evidente fastio e sem grandes diferenças de opinião. Quando o assunto é o Estado e a economia, Portugal deixa-se dominar por um consenso mais ou menos socialista. Mas quando o assunto é o aborto ou a eutanásia, ah, então sim, já temos divergências ideológicas. Isto acontece porque o nosso debate político vive cercado por duas forças 'apolíticas': a esquerda anticlerical e a direita reaccionária. Estas duas forças (as únicas que temos?) apenas debatem temas moralistas relativos ao 'sujeito privado'. A esquerda anticlerical avança com as "causas fracturantes", e, na hora marcada, a direita reaccionária aparece para formar a falange dos "bons costumes".
Henrique Raposo no Expresso
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