A semana que passou a Revista Sábado contactou-me a propósito das quotas para mulheres e as listas às europeias e fez-me uma pergunta que me irritou: "não acha que podem olhar para si e pensar que apenas está na lista porque é mulher?"
De facto, podem pensar isso... como, pela peça que essa mesma revista publicou, podem ficar a pensar que aí estou atendendo à minha "proximidade com o líder do CDS". Como, em última análise, cada pessoa pode pensar o que quiser sobre o porquê de uma desconhecida "Beatriz" estar na lista de candidatos às eleições europeias! Para mim isso é perfeitamente pacífico e faz parte da liberdade que cada um tem para pensar e fazer conjecturas sobre o que quiser! Se algum louco quiser dizer que eu represento o lobby LOUBOUTIN, está perfeitamente à vontade para o fazer, embora seja manifestamente falso!
Mas indo ao que importa, a lei da paridade e a minha opinião sobre a mesma: por princípio sou contra as quotas. E não o sou pelo típico feminismo que nos leva a achar que as quotas "diminuem as mulheres". Pelo contrário, o que as quotas diminuem é a política. E isto, porque fazem depender o exercício de funções de poder do género e não da qualidade, do mérito ou da vocação. Agora, quer haja mulheres competentes, capazes e com vontade de exercer funções públicas, 33,3% de todas as listas têm que ser compostas por pessoas do sexo feminino. Isto é um total absurdo que leva às maiores perversões, vejamos algumas:
1. Nenhuma mulher candidata, por mais qualidades ou provas dadas que tenha, se esquiva agora à pergunta (que me fizeram) “não tem medo que achem que está nesta lista só para preencher a quota”? Isto amesquinha a política, os partidos e, em última análise, os candidatos. E, curiosamente, ninguém pergunta se, homens ou mulheres, estão ali a preencher a quota dos seus distritos, das suas estruturas autónomas, dos favores prestados ao líder ou do cacique que representam. Se quisermos ver pessoas a representar quotas, vemo-las em todo o lado, de todas as cores e feitios! A quota das estruturas, a quotas dos mais velhos, a quota dos mais novos, a quota da renovação, a quota da tradição, a quota dos louros, a quota dos que usam gravata ou a quota dos que bebem vinho verde, em última análise todos representamos uma quota (que pode até ser unipessoal) e todos estamos numa lista por causa da nossa “quota”. A diferença está que a lei veio tornar esta realidade uma obrigação para as mulheres, que agora não se safam do rótulo “ali está ela a preencher a quota”!
2. Como as declarações do Dr. Alberto João Jardim e do Dr. Guilherme Silva muito bem realçaram, muitas das mulheres hoje incluídas nas listas apenas aí estão para fazer cumprir a lei da paridade. Esta frase é, disso mesmo, paradigmática: "Há duas candidatas que não vão assumir funções no Parlamento [Europeu], pelo que o Dr. Sérgio Marques será 6.º e, como tal, a sua eleição não estaria em causa". Se o Dr. Sérgio Marques (actual eurodeputado e candidato em 6.º lugar nas últimas Europeias) tem mérito suficiente para continuar nas listas do PSD e manter o seu lugar de eurodeputado, porque tem que ser “desprovido” para o 8.º lugar só porque há uma lei da paridade? Não é isto, então, um jogo de cadeiras e uma anedota que os partidos facilmente contornam ao escolherem candidatas que apenas dão o seu “género” às listas, não tendo a mais pequena intenção de vir a ocupar os lugares para os quais forem eleitas? Se isto não é brincar com os eleitores não sei o que lhe chamar. Mais, parece-me que esta situação pode levar o nosso legislador genéro-fascista a querer proibir que as mulheres eleitas renunciem aos seus cargos, o que seria a mais absurda violação da liberdade dos eleitos, sobretudo quando muitas daquelas mulheres ali estão porque uma lei idiota as obriga a isso, sem terem a mínima vontade ou apetência pelos cargos aos quais se candidatam!
Posto isto, já se viu que sou contra as quotas e se na lista das Europeias estou lá a representar uma quota não sei bem qual será. Pode ser a quota “legal” por ser mulher, ou pode ser a quota dos jovens, por ser JP, ou a dos advogados, dos solteiros, das pessoas de olhos verdes, dos ex alunos da Católica, dos nascidos em 1981, dos lisboetas, das mulheres que gostam de sapatos, ou qualquer conjugação de factores que me tornem “diferente” do meu vizinho do lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário