domingo, março 06, 2011

Diário de Viagem - ISRAEL (2)


É impossível visitar o Yad Vashem, o Museu/Memorial do Holocausto, no Monte da Recordação (Har HaZikaron) em Jerusalém, e ficar indiferente. E não será por Yad Vasehm nos contar uma história sobre o Holocausto diferente e mais terrível do que aquela que (infelizmente) todos conhecemos.

É, talvez, porque ali o Holocausto é a VERDADE. A única verdade daqueles milhões de números a quem Yad Vashem quis restituir a humanidade, devolvendo uma cara, um nome e uma história. Não estão lá os rostos dos 6 milhões de Judeus que foram mortos nos guetos, nas valas e nas câmaras de gás. Mas estão os de muitos e, em cada um deles, reconhecemos alguém como nós: com uma família, com um nome, com esperança. Homens, mulheres, novos, velhos, crianças, deficientes, artistas, cientistas, escritores ou advogados, todos estão em Yad Vashem, porque todos, independentemente da idade, da profissão ou da nacionalidade, foram vítimas da Shoah.

Em Yad Vashem, contudo, não há o horror. Não há o cheiro. Não há o frio. Não há o medo que dizem que se sente, ainda hoje, em Auschwitz-Birkenau. Há, sim, uma história, terrível, que é contada através da história das pessoas que a viveram. O professor que morreu porque se recusou a abandonar as crianças que tinha a seu cargo. A jovem hungara que sobreviveu e consigo "salvou" algumas das mais terríveis fotografias dos campos. O realizador de cinema judeu que colaborou com os Nazis achando que assim ganhava a sobrevivência, mas que não conseguiu. E em cada nova caixa que abrimos, uma história, igual às demais na sua simples humanidade. É isso que choca em Yad Shavem.

Por fim, porém, em Yad Vashem também há esperança. A esperança de que os Judeus agora têm uma casa e um Estado que os pode proteger. A esperança de que será impossível algo tão terrível voltar a acontecer. E é por causa dessa esperança que a visita termina numa varanda, com uma esmagadora vista sobre Jerusalém, a terra prometida.

Em Yad Vashem todos nós fazemos uma viagem. Não a viagem das muitas salas pelas quais passamos, mas uma viagem interior, sobre os limites da humanidade e é isso que não nos deixa indiferentes. Eu não saí de Yad Vashem a saber mais sobre o Holocausto. Mas saí de Yad Vashem, sem dúvida, a saber mais sobre humanidade.


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Nota: nos minutos imediatamente após a visita, não sabia muito bem o que podia dizer. Tudo parecia banal e pequeno, perante a dimensão daquilo com que ali somos confrontados. Não havia lugar ao sentido de humor, tão útil quando nada mais há a dizer. Uma gargalhada soaria mal, ali. Aos poucos vamos recuperando, mas a sensação de estranheza, essa não passa. Ainda agora, ao escrever sobre Yad Vashem não encontro as palavras certas para descrever o que senti. O nó volta ao estômago e o bloqueio ameaça a habitual fluência da escrita. Por algum motivo, o Holocausto foi o Holocausto, e não é preciso ver as câmaras de gás para sentir a revolta calada pelo que Homens foram capazes de fazer a outros Homens, tendo apenas o silêncio por testemunha. Yad Vashem é isso mesmo.

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