Na Irlanda, país a ultrapassar uma profunda crise financeira e com o orgulho ferido pelo FMI, houve eleições a semana passada. O Fianna Fáil, partido do Governo que, bem ou mal, os eleitores entenderam ter conduzido a Irlanda à situação em que se encontra - apesar de também a ter levado aos píncaros do crescimento no início deste século, no que se chamava, então, "milagre irlandês" - foi duramente penalizado. E quando digo "duramente", não significa passar de 40% para 30%. Significa ficar reduzido a 20 deputados em 166 (17,5% dos votos) e ter elegido apenas 1 – sim, só 1 - dos 51 deputados eleitos por Dublin! Para além de terem reduzido um “triple A” eleitoral a “lixo” (usando a terminologia dos ratings) os irlandeses, tal como os Tunisinos, os Egípcios e os Líbios, fizeram o seu “dia de raiva” e expressaram-no pelo voto, numa afluência às urnas sem precedente.
E nós por cá, que também atravessamos uma gravíssima crise, que não é apenas financeira, mas é económica, social e é de vergonha, o que fazemos? As sondagens de fim de semana coincidem na vitória certa do PSD, sem maioria absoluta, e na consolidação do CDS como terceira força política. A abstenção continua firme nos 38% (ganha ao PSD); o PS não desce dos 30% (27% a acreditar na Aximagem) e os votos somados do PSD e do CDS ainda não chegam à maioria absoluta.
Vendo isto, pergunto-me: como é possível que o governo (muito em especial o Primeiro-Ministro) que nos conduziu a um buraco bem mais negro do que o buraco Irlandês, continue a aguentar-se nos 30% das intenções de voto? Ao contrário dos irlandeses nós não mergulhámos de cabeça, em 2008, numa crise absoluta vindos de crescimentos muito acima da média europeia. Portugal há 10 anos que não cresce (e desses 10 o Partido Socialista governou 8) e os próximos 10 já estão perdidos à conta do défice, da dívida e dos juros. E vendo isto os portugueses continuam adormecidos e desinteressados, desculpando-se com o clássico “para quê votar se eles são todos iguais”. O voto é a nossa arma, assim como a invasão das ruas é a arma daqueles que não têm voto. Como podemos fingir que não é nada connosco e continuar, calmamente, a ver Portugal a afundar-se (com ou sem FMI), sem qualquer perspectiva de crescimento ou de saída para a crise nacional, mesmo quando a CRISE – a internacional com a qual Sócrates se desculpa – passar?
Portugal precisa de acordar e fazer o seu dia de raiva pelo desgoverno, pela corrupção, pela mentira e pela vergonha. E nesse dia o PS terá que sair das urnas reduzido a “lixo”, tal como reduzido a “lixo” estará o rating da República não tarda – o das empresas públicas já foi -, se ele nos continuar a governar.
Um comentário:
Pois é, tem a menina toda a razão sobre a (in)compreensível resignação dos portugueses perante a situação desastrosa a que este governo conduziu o país, mas somos mesmo assim, acomodados e fatalistas. Temos o fado, não temos?
Também é um facto que não se perfila solução muito melhor, porque Passos Coelho está rodeado de abutres que espumam por abocanhar o seu naco de poder, e nós sabemos bem da incompetência dessas pérolas. Dar-lhes tempo para aprender não ajudará, porque não são capazes de aprender nada, pelo que o povo vai esperando, bovinamente, que apareça o tal D. Sebastião salvador da pátria. Que não será o Santana, que se está lançando ao caminho, mas, do que diz e faz, se conclui que os disparates de 2005 não mostram jeito de ter sido emendados. Lá para o norte, o Rio alça a voz, a contento das tropas que o apoiam, as quais julgam que só o estilo siciliano da personagem será garantia para um PSD ávido de poder, mas mais não é do que outro sócrates em perspectiva, quiçá pior.
Deixemos pois a raiva para melhores dias, que, para já, parece inútil.
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