domingo, março 06, 2011

Parvos

Acordo, tomo o café da praxe, abro o facebook e o que vejo? Um país indignado porque os "Homens da Luta" ganharam a eurovisão (ou lá como se chama o programa), com a canção "A luta é alegria" (youtube da mesma lá mais em baixo, para quem, como eu, não faz ideia do que é isto).

Curiosa, fui ouvir e até gostei. É alegre e festivaleira. Tem ritmo. A letra? Não prestei muita atenção porque, para mim, música é música e não palavras declamadas. Enfim. Mas vamos ao "cerne da questão": é ou não uma canção do PREC? É ou não uma canção de intervenção? Sei lá! Se é do PREC, pelo menos é melhor que a da gaivota (que mais serviria para canção de embalar de velhos e doentes), mas lá está, eu não serei a melhor pessoa a avaliar isso, já que no PREC não ouvia (ainda) música e, para dizer a verdade, não ouvia mesmo nada.

"A luta é alegria", assim como a canção dos Deolinda, ao contrário do que alguns pensam, não é o começo de nada. Não se iludam. Assim como a "Manif" de dia 12 também não será. São, elas próprias, o fim da "luta". Depois de a "geração parva" sair à rua com os Deolinda e votar nos Homens da Luta, sentirá que está cumprido o seu papel revolucionário e poderá continuar a votar, sem culpa, naqueles que nos trouxeram a esta "situação" e engrossar os 30% que, a acreditar nas sondagens, ainda dariam o voto ao PS. Porque já tiveram o seu momento de rebeldia, o seu momento de protesto. Acham que foram "bué radicais" e que o Sócrates até se importa, mas, na verdade, foram só parvos.

2 comentários:

mummy disse...

Por vezes, pasmo como consegue a menina ser tão profunda nestas análises, só aparentemente superficiais.
Claro que este fenómeno "revolucionário/musical" em curso mais não é do que a imitação que a autodesignada geração parva de hoje quer fazer daquela que, entre 69 e 70 do século passado, cantaram a raiva e chamaram à luta que culminou com a revolução dos cravos. Esquecem que eram outros os tempos, outro o contexto, outras as gentes, com outra fibra. Mas, coitados, entre Deolindas e Homens da Luta lá vão fazendo pela (sua) vidinha, ganhando o seu pedaço de fama e os cobres de que precisam para o supermercado. Cada época tem os deolindas que merece, e, para um festival, qualquer porcaria não se leva a mal. O povo, que se presumia ser sábio, assim escolheu, exactamente o mesmo povo que ainda apoia Sócrates, ou, pelo menos, não o enxota para o buraco negro que merece. Quanto a Sócrates, perante tão coerentes e boas escolhas populares, some e segue, impune e altaneiro, sem luta, e com mal contida alegria.

BSC disse...

Se são profundas, são-no naturalmente, já que não são fruto de nenhum trabalho afincado na procura da profundidade.
Acredito, aliás, que a maioria de nós apenas diz banalidades, mas que, como bem viu Warhol, toda a banalidade tem direito aos seus 15 minutos de fama.
Se com este espírito consigo atingir alguma profundidade, tanto melhor. Porque não tento ser nada mais do que natural.