sexta-feira, dezembro 16, 2011

O mito da androgenia e o "apagão" da mulher


Cada um veste o que quer e como quer. Se um homem se quer vestir de mulher, tem todo o direito de o fazer. Não é nem imoral, nem provocador. É apenas o que é, e nada tem de chocante.

Porém, por menos preconceituosa que seja, há uma coisa nesta campanha, que usa um homem num papel que é de mulher, que me choca. E choca-me, não pela inversão de papéis ou pela subversão de conceitos associada, mas porque torna a mulher substituível, perfeitamente dispensável.

Durante anos a indústria da moda "dessexualizou" (não sei se a palavra existe, mas neste contexto é indiferente) a mulher (excepção feita, talvez, à Victoria Secret com as suas anjas). Tornou a mulher pouco mais do que um rapazinho pós-puberdade, imberbe e sem definição sexual. O caminho estava traçado para chegarmos aqui: um homem (andrógino como poucos, é bem verdade) cumpre exactamente o mesmo papel que qualquer uma dessas pós-adolescentes indefinidas que pisam as passarelas. De tal modo que este homem, com as características físicas que tem, não se distingue das suas companheiras de passerelle e faz com que a mulher, com corpo de mulher, seja uma quase aberração nesta nova ditadura da beleza sexualmente indefinida.

Não sei de foi uma conspiração gay como aquela de que Henrique Raposo fala (e fala muitíssimo bem) mas a verdade é que o ideal de beleza feminina, dos anos 60 para cá, tem vindo a retirar à mulher tudo aquilo que a tornava, verdadeiramente, feminina. Apagaram as curvas, apagaram as mamas, apagaram as cinturas e as ancas e no seu lugar deixaram um "rapazinho".

Se eu fosse homem, perante este estado de coisas, entre uma pós-adolescente com corpo de menino e um homem que pareça o que é, não teria dúvidas e preferiria o homem. Mas talvez isso seja só eu, que sou mulher, e com pouca apetência para a androgenia.

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