Os invisíveis
As grandes cidades sempre me fascinaram. O seu caos repleto de gente era uma das características que mais me seduzia. O barulho, as luzes, as pessoas apressadas, a correr de um lado para outro, criavam a confortável percepção de companhia. Podia estar sozinha, de facto, mas sentia-me perfeitamente acompanhada pela cidade atarefada.
Com a idade e com a experiência (aos 30 anos podemos começar a falar assim) percebi que tal não passa de ilusão. A verdade é que todas essas almas com que me cruzo, nas ruas de Lisboa, Bruxelas ou Londres, são estranhos para os quais eu, na verdade, não existo e o meu mundo é algo que não os toca. Posso estar feliz que não terei ninguém a querer saber porque sorrio comigo mesma. Posso estar triste que ninguém me perguntará por quem são as minhas lágrimas.
E é essa a solidão de quem está rodeado de gente. Pode irritar-me a vida de "bairro" em que a vizinha sabe bem quem eu sou e que se aproxima, curiosa, se pressente alguma novidade. Posso achar penoso ter que responder sempre às mesmas perguntas das velhotas lá do prédio. Mas, por incrível que pareça, isso conta. Isso conforta. Afinal não somos anónimos.
É a quebra das relações de proximidade
nas cidades que conduz, de facto, a uma solidão maior do que a solidão de
quem está, verdadeiramente, só. E estar rodeados de gente não passa mesmo de
uma tremenda ilusão, já que para toda essa "gente" nós somos
absolutamente indiferentes. Invisíveis.
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