De cada vez que há um atentado na Europa, lá vem a narrativa de que não temos medo. Que o terror não vencerá porque nós não temos medo.
Pois, eu cá tenho a dizer que tenho medo. E que o normal é termos medo. Aliás, é esse medo que nos distingue “deles”. “Eles”, os que nos matam nas nossas cidades, é que não têm medo de morrer. Não têm medo de nada, porque não têm nada a perder e ainda ganham um paraíso cheio de virgens.
Pois eu tenho medo de morrer trucidada por um destes senhores. Eu tenho medo que os meus filhos sejam apanhados no caminho deles. Ou que a minha família e amigos estejam, um dia, no sítio errado à hora errada.
É normal termos medo, porque nós, a nossa civilização ocidental da qual nos orgulhamos, ama a liberdade, mas ama também a VIDA.
Temos medo dos terroristas e dos seus actos horrendos, tal como temos medo de ter um cancro, ou de que o nosso avião caia. De forma egocêntrica e hipócrita, não pensamos nisso todos os dias. Pomos lá no fundo da nossa consciência e embalamo-nos pela ideia de que não acontecerá connosco. Mas temos medo, obviamente. Porque ter medo, é Humano. E é um bom sinal, porque significa consciência. O meu filho de 1 ano e meio, não tem medo de nada. Por isso se atira de cabeça do sofá ou corre para as escadas quando, num esquecimento, deixamos a cancela aberta. Não há réstia de coragem neste seu comportamento. Há apenas desconhecimento e inconsciência própria da idade. Com o passar do tempo, ganhará medos. E, com isso, aprenderá a proteger-se dos perigos.
Por isso, esta narrativa do medo é falsa e é perigosa. Falsa porque é óbvio que todos temos medo. Perigosa, porque negá-lo é pormo-nos ao nível de uma criança de 1 ano e meio que se atira de cabeça no chão. Nós temos medos, mas temos também a capacidade de racionalizar o medo e não nos deixarmos dominar por ele. Temos a capacidade de não fecharmos as nossas cidades num lock down forçado porque um tarado resolveu, mais uma vez, matar. Mas temos medo, e por isso, tomamos certas precauções. Isso não é “deixar os terroristas ganhar”, isto é perceber que às vezes é preciso ter “cancelas” nas escadas.
Afinal, quem é que não tem medo de morrer? Só os loucos ou os suicidas. Eu não sou nem uma coisa, nem outra. Por isso eu tenho medo.
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