Nos últimos anos, por vários motivos, temos estado várias vezes em França: quer seja porque atravessamos o país no caminho para Portugal quer seja porque é aqui perto e dá sempre para uma escapadinha. E o que nos tem surpreendido, de cada vez, é a decadência Francesa. Talvez quem vá apenas a Paris não note. Mas quem chega a Paris de carro, quem anda pela “campagne” e pelas cidades secundárias (não falo sequer dos
Banlieue mas das cidadezitas e vilarejos) fica com uma sensação de que ali vive o passado. Um passado de glória e de riqueza, mas que ficou lá atrás. Não há sombra de prosperidade nas pequenas cidades com os seus prédios abandonados e parco comércio (e basta ver o preço a que se vendem propriedades fabulosas para perceber a pouca procura que existe).
A zona de Champagne, um dos últimos exemplos que tivemos, que deveria ser sinónimo de luxo, é hoje apenas decadente, como se faltasse não apenas dinheiro, mas vida. Épernay é a mistura da opulência da Avenue de Champagne com o centro de Odemira, ganhando este último em animação! (Ninguém acredita que não haja uns quantos bares giros e com pinta para degustação de Champagne naquela que é a sua capital!)
Se atravessar França é penoso, chegar a Espanha é respirar de alívio. Parece que os anos da crise já ficaram para trás e Espanha renasceu. Chegar a Burgos é magnífico. Uma cidade borbulhante, próspera, bonita e bem cuidada, cheia de vida e de verde. De prédios recuperados e restaurantes cheios. (Parece a Lisboa de 2018).
Visitar esta França é um murro no estômago porque demonstra bem como é possível um país ir desaparecendo, devagarinho, nas páginas da história, ficando apenas com as ruínas do que foi. E, mesmo para quem, como eu, não é particular admiradora de França ou dos franceses, ver o declínio dá muita pena.
E é esta a França dos coletes amarelos. É esta a França que é terreno fértil para Marine le Pen e Mélenchon. É a França das pessoas que estão mais pobres, da gente que se sente abandonada pelo Eliseu, porque não vive em Paris, com as suas montras cintilantes e beautiful people. São as pessoas que sentem, no seu quotidiano, o empobrecimento, o envelhecimento e a decadência. Não sei se França é “recuperável”. Não sei se há caminho de volta para a realidade do abandono. Mas sei, certamente, que não é com mais 100 euros mensais que se reconstrói um país e que Macron não é certamente “o Restaurador”.
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