segunda-feira, novembro 04, 2019

Nuno Melo e o Mediterrâneo

Ainda a propósito de liberdade e manipulação, um bom exemplo é o que, na semana passada, foi dito, escrito e desenhado contra Nuno Melo a propósito do voto numa Resolução sobre salvamento no Mediterrâneo. 

Para qualquer um minimamente informado e de boa fé, é evidente que havia (como apenas poderia haver) no Parlamento Europeu um consenso sobre a necessidade de salvar quem corre o risco de se afogar na travessia do Mediterrâneo. Tanto assim é que à votação estiveram 4 Resoluções sobre o tema. 

Onde não há consenso é a montante e a jusante. Por exemplo, o que fazer e que apoios dar aos países de origem; como distinguir refugiados de migrantes económicos (não para recusar ajuda a uns, obviamente, mas para determinar o seu estatuto posteriormente ao salvamento); que controlo e segurança de fronteiras ter; como tratar e que poderes atribuir às ONGs; o que fazer às redes de tráfico de seres humanos a operar nestas rotas; etc. 

Todas estas questões são debatíveis e para todas elas haverá respostas diferentes à esquerda e à direita. Mas onde não há divergência nem resposta diferente é na vontade de salvar todos quantos estiverem em risco de morrer afogados no Mediterrâneo. 

Dizer o contrário é simplificar e moldar a verdade para obter ganhos políticos imediatos. E isso é populismo. O mesmo populismo que tantos dizem combater, enquanto fazem exactamente o mesmo. 

Pela dignidade, paciência e pedagogia que o Nuno Melo demonstrou ao lidar com esta questão o meu voto de Maio já valeu a pena. Não sei é se vale a pena fazer política de forma séria e empenhada para ser enxovalhado desta forma. E por isso, também pela resiliência devemos agradecer ao Nuno Melo e a todos os que se sujeitam a ser assim tratados.

Sobre a liberdade de expressão

Ontem um miúdo de 17 publicou um artigo no observador. Por isso, foi insultado, gozado e enxovalhado. Porque é um “beto”, filho de “betos”, com nome de “beto” e com cabelo e camisa de “beto”. Pior que tudo, tem ideias de direita. Ousa falar de liberdade de escolha na educação e na saúde. Tem o descaramento de pedir menos impostos e menos red tape para que miúdos, como ele, possam criar, quem sabe, o próximo Facebook em Portugal. De passagem é contra a eutanásia, aborto e ideologia de género, o que faz supor que será católico. 

Está o caldo preparado para que os progressistas defensores do politicamente correcto caiam em cima dele, sem dó nem piedade. Insultando o seu cabelo e o seu nome de “beto” e apoucando o que escreve, porque de certeza que é “rico”, além de tremendamente “beto”, ostensivamente conservador e surpreendentemente “velho” nos seus poucos anos.

Pois bem, nada disto é surpresa. O entendimento dos progressistas sobre liberdade de expressão é conhecido e, convenhamos, bastante limitado. Deve existir para quem pensa, fala e escreve como eles. Todos os outros merecem apenas o enxovalho público das mesmas almas que, noutros fóruns, enchem a boca com os perigos do “bullying” online. (Já passar um domingo a insultar um miúdo de 17 anos no Twitter não é bullying e é feito, com certeza, em nome do progresso e da liberdade!)

Para mim, o exemplo mais flagrante da hipocrisia dos progressistas bem pensantes, arautos do politicamente correcto e polícias da consciência alheia, deu-se há uns anos quando, numa entrevista, Domenico Dolce e Stefano Gabbana deram conta da sua posição mais conservadora no que respeita à familia, dizendo “You are born to a mother and a father, or at least that’s how it should be”. Foi o suficiente para o boicote à marca ser pedido por Elton John e Madonna e para a sempre moderada Courtney Love afirmar que iria queimar todos os seus items da marca. De nada interessa Dolce e Gabbana serem dois homossexuais publicamente reconhecidos e activistas dos direitos LGBT. Interessa apenas que a sua opinião, quando contrária à agenda progressista, merece censura, insulto e boicote. 

À época, Domenico Dolce chamou fascista a Elton John. E fez muito bem, porque sob o disfarce do politicamente correcto, o que temos aí é censura, boicote, insulto e tentativa de calar quem deles discorda. Numa palavra: fascismo.