Lisboa, 23 de Abril de 2005, começa o XX Congresso do CDS, ao qual os delegados chegam, na certeza da escolha de um sucessor de Paulo Portas e com duas candidaturas assumidas: Miguel Matos Chaves (MMC) e Telmo Correia (TC), durante muito tempo visto como o ‘delfim’ e sucessor natural de Portas. A meio da tarde, depois de um discurso bem urdido e inflamado, José Ribeiro e Castro (JRC) afirma estar em condições de avançar, também, para a liderança, com a condição de a sua moção, 2009, ganhar as votações dessa noite. Os delegados vêem, assim, completo o rol de possibilidades: MMC, TC e JRC.
Pessoalmente, cheguei à Fil, no sábado, com o meu voto definido: TC era o meu candidato. Os discursos, naquela tarde, foram uma surpresa, mas não chegaram para me baralhar as intenções. Na forma, o de JRC foi bem mais inspirado e entusiasmante que o de TC, o orador brilhante, que tentou um discurso ‘à Portas’, mas faltou-lhe a alma e a paixão. No conteúdo, TC fez um discurso de homem de estado, perdeu-se em citações e falou ao país, enquanto JRC, percebendo a orfandade que sentiam os congressistas, falou ao coração dos militantes do CDS, virou-se para dentro do Partido, prometendo esperança e um retorno às origens. No que importa, verdadeiramente, ambos estavam de acordo: Sim ao Tratado Constitucional, Não ao aborto, coligação nas Presidenciais e, pontualmente, em algumas Câmaras. Nenhuma diferença de fundo e o rumo proposto parecia comum: a via da Direita a ser conquistada.
Seguiu-se, depois, o desfile dos apoios para um e outro lado e todos pudemos perceber como a história do eucalipto do Pacheco Pereira era um perfeito disparate. Ao longo da tarde não vi um partido murcho ou seco, mas um partido vivo e cheio de vontade de crescer e de ir à luta. Vi a discussão de ideias e assisti a discursos mobilizadores (tanto de apoiantes de JRC, como de TC). Não assisti, porém, a ataques pessoais, ou a intervenções mesquinhas. Houve combate político no seu sentido mais puro e mais elevado. Realço, porém, aquele que foi, para mim, um dos melhores discursos do Congresso, o de António Pires de Lima, o homem que representou, no XX Congresso, a abertura do CDS a um discurso mais liberal e mais pragmático, dirigido aos empresários, que pedem menos Estado, à classe média e aos jovens, que confiaram no CDS! Um discurso realista e descomplexado, que não entrou na disputa (na qual, a certa altura, pareceram embarcar TC e JRC) de quem é mais democrata-cristão! De matriz democrata-cristã seremos todos (ou quase todos!) mas há alguns de nós que preferiam ver um partido mais aberto e mais liberal, e que entenderam que TC corporizava melhor essa oportunidade de mudança e de abertura (por ser esse o caminho da Moção Afirmar Portugal e de alguns dos apoiantes de TC, nomeadamente Pires de Lima e Teresa Caeiro).
A minha escolha foi, portanto, a escolha da abertura e do pragmatismo, em detrimento de um partido mais ideológico e vincadamente Democrata-Cristão. Se me perguntarem quando soube que JRC ganharia o congresso, respondo que tive a certeza disso no final do seu último discurso. A sorte favorecera-o ao dar-lhe a oportunidade de falar por último e, uma vez mais, JRC aproveitou bem a sua sorte. Fez um grande discurso e conquistou, ali mesmo, os congressistas que poderiam ainda ter dúvidas. Antes dele, TC fizera um excelente discurso (tarde de mais, talvez) que não conseguiu, ainda assim, quebrar com o crescendo de apoios que JRC fora conquistando ao longo da tarde e da noite. Há momentos decisivos em que, para além dos Homens (e na disputa estavam dois grandes Homens), a sorte é determinante. JRC teve os ‘deuses’ do seu lado este fim de semana (o Benfica até ganhou ao Estoril!) e TC cometeu, muito provavelmente, erros que um dia algum politólogo se dedicará a estudar!
Embora TC fosse aquele que melhor corporizava aquilo que queria para o CDS e embora tenha sido nele que votei, no final do Congresso não estava triste. E isto porque o CDS deu, ao longo de dois dias, um magnífico exemplo de Democracia e de Liberdade! Como diz, e muito bem, o Zé, este foi um Congresso disputado entre dois homens bons e, talvez por isso, eu soubesse, perfeitamente, que quer ganhasse TC, quer ganhasse JRC, o meu CDS estaria muito bem entregue e o nosso futuro como partido assegurado. Talvez não tenha ganho a linha que mais se aproxima do meu próprio pensamento, mas ganhou um homem que demonstrou paixão pelo CDS e vontade de o fazer voltar a crescer. Isso deve deixar os militantes tranquilos, porque hoje somos todos CDS e só podemos sentir-nos felizes pelo magnífico exemplo que demos e pelo facto de Paulo Portas ter deixado o nosso partido mais vivo e mais dinâmico do que nunca, maduro e capaz de escolher, num clima sereno, mas disputado, aquele que conduzirá os nossos destinos nos próximos anos. Também aqui (para além de tudo – e é muito esse Tudo! - o que lhe devemos agradecer!) merece o nosso agradecimento, pela forma como permitiu que o CDS se sentisse livre para escolher o seu futuro pós ‘Paulo Portas’.
Pela maturidade política demonstrada, estamos todos de parabéns, mas, sobretudo está de parabéns a Democracia!
Nota 1: talvez o que mais me tenha custado, na Sessão de Encerramento, tenha sido ver Paulo Portas na primeira fila e não no lugar onde me habituei a vê-lo durante 7 anos – o de Presidente do CDS. Foi talvez aí que percebi que houve, mesmo, um ciclo que se encerrou. Mas foi também a certeza – até visual - de que o seu “adeus” é um “até breve”!
Um comentário:
Pois, eu também acho que os partidos crescem e maifestam o seu poder, através do auxílio de todos, quanto mais melhor. Nunca de JC e JRC, de te e de todos os outros, é que depende o futuro do CDS. Já agora, os meus parabéns, pelo exemplo de pluralidade e não caciquismo político que vocês deram.
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