segunda-feira, março 19, 2007

Sobre o Conselho Nacional do CDS

Demorei quase 24 horas a escrever sobre o Conselho Nacional do CDS, que decorreu ontem. Devo confessar que tal incapacidade de escrever não é me é habitual e só revela que, de facto, o que aconteceu ontem foi grave, muito grave.

Desde ontem que tenho experimentado vários sentimentos contraditórios, mas de todos eles aquele que mais tem estado presente é a tristeza.

Tristeza pelas atitudes tomadas por pessoas com responsabilidade dentro do CDS, nomeadamente a Senhora Presidente do Conselho Nacional e o Senhor Presidente da Comissão Política Nacional, que fragilizam, e muito, o CDS e lançam a confusão na opinião pública.

Tristeza pela forma apressada como foi encerrado o Conselho Nacional, recusando a mesa a dar a palavra, para uma interpelação, a um ex-Presidente do Partido, proponente da proposta que tinha vencido uma votação e a que dessa vitória fossem, então, retiradas as necessárias consequências, jurídicas e políticas.

Tristeza por se fazer tábua rasa do meu voto e do voto de 65% das senhoras e senhores conselheiros nacionais.

Tristeza por ver a Direcção do meu partido rumar ao abismo com toda a força e empenho, como se o simples facto de se manter no poder fosse o seu desígnio messiânico, fechando os olhos ao sentimento do partido e enterrando a cabeça na areia.

Tristeza com a forma como foi, abruptamente, terminado o Conselho Nacional, entre gritos e debandada da Direcção. O CDS, parece-me a mim, merece mais respeito!

Porém, a tristeza não chega para definir o que sentia ao sair, ontem, do Hotel Marriot...

Havia, também, desilusão, por ver que o Conselho Nacional do meu partido vota, de forma expressiva, a pedir a realização imediata de eleições directas e esta votação é desconsiderada. (Como institucionalista, considero que uma vitória limpa no CN é plenamente legítima e não configura qualquer assalto ao poder).

Havia, também, confusão por ter passado 12 horas a discutir problemas jurídicos, criados a todo o momento, para evitar que a discussão política pudesse ser feita de forma livre, democrática e aberta.

Havia, também, irritação com todos aqueles que desrespeitaram normas, inventaram entraves, usaram expedientes e manigâncias de toda a espécie para impedir que o Conselho Nacional pudesse decidir, em consciência que caminho queria seguir.

Havia, também, perplexidade com as declarações que faziam (e continuam a fazer) pessoas com responsabilidade, pessoas que são valores do partido e pessoas que considero (apesar de delas discordar), acusando deputados de agressões físicas, militantes de coacção verbal e conselheiros de mentira.

Havia, porém, certeza de que o caminho que sigo é o caminho certo. Ontem, se dúvidas eu tivesse, perceberia que há, no CDS, um homem, um militante, uma pessoa que já nos deu muitíssimo, que entende que a grave situação que o nosso partido vive só poderá ser ultrapassada com uma mudança de rumo. Esse homem, esse grande ex-Presidente do CDS, deu a cara e foi à luta. De forma clara, frontal e usando, estritamente, os meios legais. Do outro lado, está outro homem, um militante, uma pessoa que, à sua maneira, conduz o partido há 2 anos e, certamente, dá o seu melhor, mas que neste momento não lê os sinais, não percebe a evidência, enterra a cabeça na areia e diz: eu fico, quando não tem condições de ficar! Para ficar, agarra-se, então, a tudo, numa tentativa desesperada de evitar o fim de um ciclo, que só ele parece não ver que já acabou.

Havia, por fim, a convicção de que, passados estes dias menos bonitos, a legalidade seja reposta, a vontade dos Conselheiros Nacionais e da maioria dos militantes seja cumprida, e de que, finalmente, o CDS possa seguir o seu caminho, com uma nova direcção, um novo projecto e um novo ânimo.

4 comentários:

Carlos Oliveira Andrade disse...

óptimo resumo

Carlos Oliveira Andrade disse...

E não falaste dos cães de fila?

Francisco X. S. A. d'Aguiar disse...

Não voaram cadeiras nem urnas, mas certas pessoas bem mereciam ter voado pela janela fora!

BSC disse...

Meu caro Carlos, tu já me conheces e sabes que quando o lado sério toma conta de mim não há brincadeiras pelo meio!