Demorei quase 24 horas a escrever sobre o Conselho Nacional do CDS, que decorreu ontem. Devo confessar que tal incapacidade de escrever não é me é habitual e só revela que, de facto, o que aconteceu ontem foi grave, muito grave.
Desde ontem que tenho experimentado vários sentimentos contraditórios, mas de todos eles aquele que mais tem estado presente é a tristeza.
Tristeza pelas atitudes tomadas por pessoas com responsabilidade dentro do CDS, nomeadamente a Senhora Presidente do Conselho Nacional e o Senhor Presidente da Comissão Política Nacional, que fragilizam, e muito, o CDS e lançam a confusão na opinião pública.
Tristeza pela forma apressada como foi encerrado o Conselho Nacional, recusando a mesa a dar a palavra, para uma interpelação, a um ex-Presidente do Partido, proponente da proposta que tinha vencido uma votação e a que dessa vitória fossem, então, retiradas as necessárias consequências, jurídicas e políticas.
Tristeza por se fazer tábua rasa do meu voto e do voto de 65% das senhoras e senhores conselheiros nacionais.
Tristeza por ver a Direcção do meu partido rumar ao abismo com toda a força e empenho, como se o simples facto de se manter no poder fosse o seu desígnio messiânico, fechando os olhos ao sentimento do partido e enterrando a cabeça na areia.
Tristeza com a forma como foi, abruptamente, terminado o Conselho Nacional, entre gritos e debandada da Direcção. O CDS, parece-me a mim, merece mais respeito!
Porém, a tristeza não chega para definir o que sentia ao sair, ontem, do Hotel Marriot...
Havia, também, desilusão, por ver que o Conselho Nacional do meu partido vota, de forma expressiva, a pedir a realização imediata de eleições directas e esta votação é desconsiderada. (Como institucionalista, considero que uma vitória limpa no CN é plenamente legítima e não configura qualquer assalto ao poder).
Havia, também, confusão por ter passado 12 horas a discutir problemas jurídicos, criados a todo o momento, para evitar que a discussão política pudesse ser feita de forma livre, democrática e aberta.
Havia, também, irritação com todos aqueles que desrespeitaram normas, inventaram entraves, usaram expedientes e manigâncias de toda a espécie para impedir que o Conselho Nacional pudesse decidir, em consciência que caminho queria seguir.
Havia, também, perplexidade com as declarações que faziam (e continuam a fazer) pessoas com responsabilidade, pessoas que são valores do partido e pessoas que considero (apesar de delas discordar), acusando deputados de agressões físicas, militantes de coacção verbal e conselheiros de mentira.
Havia, porém, certeza de que o caminho que sigo é o caminho certo. Ontem, se dúvidas eu tivesse, perceberia que há, no CDS, um homem, um militante, uma pessoa que já nos deu muitíssimo, que entende que a grave situação que o nosso partido vive só poderá ser ultrapassada com uma mudança de rumo. Esse homem, esse grande ex-Presidente do CDS, deu a cara e foi à luta. De forma clara, frontal e usando, estritamente, os meios legais. Do outro lado, está outro homem, um militante, uma pessoa que, à sua maneira, conduz o partido há 2 anos e, certamente, dá o seu melhor, mas que neste momento não lê os sinais, não percebe a evidência, enterra a cabeça na areia e diz: eu fico, quando não tem condições de ficar! Para ficar, agarra-se, então, a tudo, numa tentativa desesperada de evitar o fim de um ciclo, que só ele parece não ver que já acabou.
Havia, por fim, a convicção de que, passados estes dias menos bonitos, a legalidade seja reposta, a vontade dos Conselheiros Nacionais e da maioria dos militantes seja cumprida, e de que, finalmente, o CDS possa seguir o seu caminho, com uma nova direcção, um novo projecto e um novo ânimo.
4 comentários:
óptimo resumo
E não falaste dos cães de fila?
Não voaram cadeiras nem urnas, mas certas pessoas bem mereciam ter voado pela janela fora!
Meu caro Carlos, tu já me conheces e sabes que quando o lado sério toma conta de mim não há brincadeiras pelo meio!
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