sexta-feira, novembro 16, 2007

Cultura à Sexta

«Este inferno de amar - como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma ... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar
?

(...)»

Almeida Garrett, Folhas Caídas, 1853


Almeida Garrett, dramaturgo e poeta do século XIX, é um dos primeiros e mais importantes representantes do Romantismo em Portugal. O Romantismo foi um movimento literário que se caracterizou pela exaltação dos sentidos, da fragilidade da vida, das emoções e do o drama humano (muitas vezes associado aos amores trágicos), por oposição ao racionalismo do século XVIII. Os autores do Romantismo, dos quais se destacam Lord Byron e Walter Scott, em Inglaterra, Goethe e Schiller, na Alemanha, e Victor Hugo, em França, são profundamente individualistas, exaltando os sentimentos e as emoções, e também genuinamente nacionalistas (embora encarem o nacionalismo com um certo lirismo).

Almeida Garrett nasceu no Porto, no final do século XVIII, e com as invasões francesas a família mudou-se para a Terceira onde o jovem João Baptista recebeu uma educação clássica ministrada pelo seu tio, o Bispo de Angra. Chegada, porém, a altura de prosseguir estudos, Almeida Garrett segue para Coimbra onde se irá dedicar ao estudo das leis. É aí que começa a sua vida de boémio (ganhando a fama de dandy que nunca mais o deixou até ao final da vida) e publicando a sua primeira obra, Retrado de Vénus, que escandilizou a sociedade portuguesa por ser considerado materialista, ateu e imoral.

Inspirado pelo ideal Liberal, tomou parte na Revolução de 1820, razão pela qual procurou refúgio em Inglaterra após a Vilafrancada. Foi aí que tomou contacto com o movimento Romântico e que produziu as suas primeiras obras que se inserem neste movimento: Dona Branca e Camões. De volta a Portugal, depois de ter exercido funções de cônsul geral em Bruxelas, ocupou vários cargos políticos (tendo sido considerado o melhor orador da sua época) e deve-se à sua actuação a criação do Conservatório de Arte Dramática, da Inspecção-Geral dos Teatros, do Panteão Nacional e do Teatro Nacional, em Lisboa.

Paralelamente, Almeida Garrett manteve sempre a sua obra poética e dramática, tendo publicado algumas das peças de teatro e poemas mais belos da língua portuguesa, dos quais são exemplo a peça Frei Luís de Sousa e os poemas do livro Folhas Caídas. Ao mesmo tempo, também a sua vida privada era preenchida com inúmeros amores (oficiais ou adúlteros) que granjearam a Almeida Garrett uma fama de D. Juan, sedutor irresístível e príncipe dos salões!

Morreu com apenas 55 anos, em 1854, em Lisboa, deixando de legado à sua amada pátria uma vasta e riquíssima obra, que inclui peças de teatro, poesia e romances, que se destacam pela alma que ele punha em todas as suas criações, mas também pela originalidade, na forma e no estilo, que Garrett introduziu na literatura portuguesa. Sem dúvida um marco incontornável e um autor que não deverá ser esquecido!

Nenhum comentário: