sexta-feira, maio 02, 2008

Rapsódia em jeito boémio

O 1.º é Maio é um dia que sempre me levantou várias interrogações, sendo a maior delas a que se prende com o contra-senso do dia do trabalhador não ser aproveitado para trabalhar. É que se no dia do ambiente plantamos árvores, se no dia da criança fazemos festas infantis e no dia da música fazemos concertos vários, então o dia do trabalhador deveria ser celebrado a trabalhar! Mas que seja feriado que no mundo de fantasia que é a realidade nacional, espécie de Tarantela mas sem a graça italiana, tudo é possível e já nada me espanta, nem agressões dentro de esquadras da polícia nem aparelhinhos anti carjacking dignos do Inspector Gadget.

Alheia às celebrações e comemorações deste dia "do trabalhador que não trabalha" (coisa que não poderia fazer mais sentido na Tugulândia), aproveitei para começar a mudança para a Villa Beatrice (at last)! Devo dizer que me fez alguma confusão ver a minha Villa, até hoje tão vazia e tão ilusoriamente ampla, receber o seu "recheio" e reduzir-se à sua verdadeira dimensão de "casa de bonecas". Os móveis que conheci toda a vida e que me pareciam pequenos na sua realidade, na Villa Beatrice transformaram-se em monstros gigantes dispostos a comer todo o espaço à sua volta. Foi estranho... e mais estranho ainda ver-me rodeada, numa casa nova, de parte das minhas mais antigas recordações, peças que sempre conheci no meu quotidiano, como que pedaços da minha infância "teletransportados" para o futuro. Estranho meddley de sentimentos este...

E porque mudanças implicam sempre arrumações, estas levaram-me a nova visita pelos meus anos de escola e de faculdade. Confesso que não posso deixar de achar graça a ver os meus cadernos da escola, todos riscados por fora, com mensagens parvas ou assinaturas sucessivas, num intenso treino para encontrar "A ASSINATURA", a contrastar com o seu conteúdo, muito certinho, arrumado e organizado. Dualidade de quem sempre foi uma boa aluna mas também a mais faladora e irrequieta da sala, capacidade que mantenho até hoje, fazendo conviver em mim, de forma perfeitamente pacífica e funcional, a Beatriz profissional, séria e responsável e a sua irmã gémea, infantil, irrequieta e amiga de tudo quanto seja festa. Como diz aquele velho soglan, não sei bem de quê, «one life, live it well» e é isso mesmo, em todas as dimensões da vida! E nestas andanças de arrumações e recordações encontrei coisas absolutamente fabulosas, sejam cartas, cartões e postais de amigos (coisa cada vez mais rara neste mundo imediato dos emails e do messenger), memorabilia do Leonardo DiCaprio (provando que tempos houve em que eu tinha um gosto algo duvidoso), notas sobre o Queen Mary II (à época apenas um projecto) ou propostas da JP Lisboa para as eleições para a CML de 2001! Uma panóplia de interesses (amigos, cinema, boa vida e política) que mantém plena actualidade vários anos depois comprovando que o tempo passa mas nós não mudamos assim tanto como poderíamos pensar, a uma primeira vista!

E o passar do tempo leva-me à última reflexão desta estranha rapsódia de ideias, provocada pelo meu querido Diogo que resolveu falar de idade. Pois a verdade é que a idade é factor decisivo para tudo na nossa vida, sendo que a falta dela ou o seu excesso (sendo que me parece que tal coisa como a "idade ideal" não existe) nos vão provocando alegrias, dissabores, dificuldades ou benevolência. E digo isto porque desde o dia em que nascemos seremos sempre demasiado novos para alguma coisa e demasiado velhos para outra. Aos 4 meses somos muito novos para comer um bife mas demasiado velhos para continuar no leite materno. Aos 4 anos somos ainda novos para entrar na 1.ª classe e já velhos para o infantário. Com 17 anos somos novos de mais para votar mas já muito velhos para sermos crianças. Aos 34 anos é-se demasiado novo para ser Presidente da República mas muito velho para se estar numa jota. E por aí fora... uma estranha dualidade (mais outra) em que, qualquer que seja a nossa idade, somos sempre demasiado velhos para alguma coisa e novos de mais para outras.

Aos 26 anos esta dualidade faz particular sentido e dou por mim, muitas vezes, a pensar que sou nova de mais para ser devidamente levada a sério (posso contar n casos em que senti isso na pele) mas já muito velha para me serem admitidas algumas infantilidades (como saltar em poças de água no dia em que calço galochas). Porque sou demasiado velha para ser "criança" e demasiado nova para ser "adulta". Ou seja uma adolescente retardada em estágio para a vida adulta, sem saber bem se este "mal de que padeço", por incrível que pareça, é maleita que passa com a idade!

2 comentários:

Anônimo disse...

Não passa. O que é, simultaneamente, a graça e a desgraça do envelhecimento.

DM em Caracas disse...

Com a nossa idade somos demasiado velhos para ser crianças e demasiado novos para sermos "grandes"...
Ok, ok... Talvez ainda possamos ser um bocadinho crianças! :-)