sábado, abril 25, 2009

35 anos depois

Confesso que o 25 de Abril de 74 é tema que não me interessa grandemente... Por um lado, a nível pessoal, não era nascida, pelo que nada tenho a dizer sobre o tema, em discurso directo. Por outro, a nível histórico (feliz ou infelizmente) ainda não existe o distanciamento necessário para se poder estudar o 25 de Abril e as suas consequências de forma cientifica, desapaixonada e factual (como fazemos, por exemplo, com a famosa crise de 1383/1385). Por isso mesmo, é período do qual não tenho nem conhecimento pessoal e directo, nem conhecimento científico aprofundado.

Confesso-me, também, um típico produto da geração de 80, nascida em Liberdade, que cresceu com a Europa a entrar-lhe pela porta e pelas janelas, e adepta convicta dos benefícios do capitalismo, da economia de mercado, da globalização e do liberalismo (em todas as suas facetas, não apenas na económica).

Para mim a liberdade de que gozamos hoje (longe de ser perfeita) é algo que está no meu ADN e é tudo o que sempre conheci. Cresci num país em que havia coca-cola e em que podia ler qualquer revista ou jornal, sem censura. Cedo aprendi que podia viajar, livremente, pela Europa (vendo as suas fronteiras crescerem, à medida em que eu própria crescia) e pelo mundo. Quando cheguei à idade de fazer escolhas políticas, fi-lo livremente, sem que alguém olhasse ao meu género, à minha condição social ou à minha ideologia. Cresci com os jornais e a televisão a mostrar-me tudo e tornei-me adulta na época da internet, dos blogues e agora do twitter. Nasci num tempo em que Portugal se começava a abrir ao mundo, em que o investimento estrangeiro nos dava outra dimensão e aos 10 anos o McDonalds e a Zara eram já realidades do meu dia-a-dia.

Para além disso, eu, que não nasci a tempo de viver no antigo regime (o português), se bem me conheço, teria tido muita dificuldade em lidar com um regime que proibia que eu lesse Hayek ou Popper e que defendia um "orgulhosamente sós" que me impediria de comprar livros na Amazon ou circular livremente pelo mundo, sem autorizações ou satisfações a dar.

Por isso, admiro, sem complexos de esquerda ou de direita, esse dia 25 de Abril de 74, que abriu as portas da Liberdade, assim como agradeço quem teve a coragem de fazer o 25 de Novembro de 75, devolvendo a todos os portugueses a Liberdade que fora conquistada em Abril e traída, de forma tão absoluta, pelo PCP e pela extrema esquerda que nos quis atirar para um regime ditatorial à semelhança da Roménia, da (antiga) Jugoslávia, de Cuba ou da URSS, essas grandes democracias, tão profundamente respeitadoras dos direitos e das liberdades individuais…

E é por isso que o folclore do partido comunista (e demais esquerdas) à volta do dia 25 de Abril e a sua propaganda ideologicamente pervertida de afirmar que “Abril” é propriedade exclusiva da esquerda (folclore no qual as direitas embarcam, não sei bem porquê) me irrita e considero uma absoluta mentira!

Abril não se fez para e pelo partido comunista e demais movimentos de extrema esquerda. Abril fez-se para que todos aqueles, que como eu ainda não tinham nascido, pudessem estar hoje aqui, livres e informados, e capazes de escolher o caminho que querem trilhar, em liberdade. Comunistas, socialistas, sociais-democratas, liberais, democratas-cristãos, conservadores, maoistas... Abril fez-se para que todos eles pudessem existir, exprimir as suas diferentes opiniões, e merecer, se essa for a vontade soberana dos portugueses, o seu voto de confiança para conduzirem os destinos do nosso país.

O 25 de Abril não se fez para as nacionalizações, para o roubo, para a descolonização que atirou para a miséria milhares de portugueses, para o terrorismo das FP25 ou para o desmantelamento da economia e das instituições do Estado. Abril não se fez para o terror, para o COPCON, para os mandados de captura em branco, ou para a perseguição daqueles que o único crime que cometeram foi gerar riqueza e criar postos de trabalho.

O PREC foi a traição de todos os valores de Abril, e por isso mesmo, se há alguém que se deveria envergonhar neste dia, era a esquerda radical. O PREC foi uma tentativa (felizmente falhada) de trocar uma ditadura por outra... em momento algum se tratou de Liberdade! O que a extrema esquerda queria, nessa altura, era instaurar o socialismo em Portugal, mas não um socialismo democrático à semelhança dos países do norte da Europa. O que pretendiam era instaurar aqui a tal “ditadura do proletariado” e mandar todos os contra-revolucionários (fosse lá o que isso fosse) para o Campo Pequeno.

Por isso, se alguém traiu Abril foi o PC e a esquerda radical que conduziu Portugal até ao 25 de Novembro de 75, dia em que finalmente a “Revolução” foi devolvida aos portugueses e se começou a trilhar o caminho da democracia, da justiça, dos direitos e das liberdades.

Por isso, a Direita não pode ter qualquer complexo em falar de Abril. Abril é, também, património nosso. Como é o 25 de Novembro (com a certeza, porém, que um não teria existido sem o outro). Diria mais, Abril é, essencialmente, património da Direita. Da direita que defende menos Estado na vida dos cidadãos. Da direita que defende a liberdade de escolha, na saúde, na educação, na segurança social. Da direita que defende os contribuintes, a classe média, os empresários, os criadores de riqueza e os trabalhadores. Da direita que se insurge contra os higieno-fascistas que nos querem dizer o que comer, o que vestir ou onde usar piercings. Da direita que tem como grande valor a Liberdade de cada homem como valor essencial na construção de um Estado.

E esta direita da qual eu faço parte não pode sentir-se envergonhada no 25 de Abril, nem amendrontada com fantasmas do passado, que nada têm a ver connosco. Esta direita não terá, com certeza, que desfilar em paradas na Av. da Liberdade nem que usar o cravo na lapela (até porque a direita caracteriza-se, na generalidade, por ter bom gosto) porque não é, apenas a 25 de Abril que nos lembramos da Liberdade. Liberdade é o código genético desta direita, e por isso todos os dias são "Abril", sem folclore e sem cravos.

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