Num Estado normal, ter acções não é crime. Num Estado normal, fazer, com a venda dessas mesmas acções, uma mais-valia, não é crime. Num Estado normal, este é, simplesmente, o funcionamento do mercado de capitais. Por tudo isso, num Estado normal, a compra e venda de acções não seria tema de uma campanha eleitoral. Mas Portugal não é um Estado normal e, por isso, a venda de acções do BPN pelo actual Presidente da República (quando não desempenhava qualquer cargo público, entenda-se) é o “tema quente” de um Janeiro especialmente ameno.
Este é, porém, um “tiro ao lado”. Se é do BPN que querem falar, pois então que falemos. Que se explique e que se discuta o que eu (como qualquer cidadão comum) ainda não percebeu. E não quero saber da novela das acções que o Professor Cavaco Silva vendeu. Gostava, porém, que o Estado que injecta milhões no BPN, sem explicar aos contribuintes o como e o porquê, sem justificar a necessidade da intervenção estatal (a não ser com o medo do chamado “risco-sistémico”) e sem explicar como milhões gastos serão orçamentados, me contasse a história do BPN. Toda. A história de polícia mas também a história daquele governador que não viu, não ouviu, não percebeu e que, quando a bomba rebentou, se “pirou” para Bruxelas onde poderá, agora a nível Europeu, voltar a não ver, não ouvir e não perceber.
Gostava que o Estado me explicasse para quê mais 500 milhões para um banco que já se percebeu que ninguém quer comprar e que dificilmente poderá fugir ao mais do que certo destino que é a falência. Gostava que o Estado me explicasse porque é que todos sofremos com o aumento dos impostos e os cortes orçamentais, mas o BPN continua a ser um poço sem fundo onde todos os milhares de Euros ainda serão poucos. Gostava que o Estado me explicasse como vai “descalçar a bota” da nacionalização, sem ver o défice a galgar barreiras e a disparar (como aconteceu na Irlanda).
Num país normal, todas estas questões seriam mais importantes do que a compra e venda de acções. Infelizmente, Portugal não é um país normal.
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