Amanhã o Protesto da "Geração à Rasca", a tal dos recibos verdes, dos estágios, das bolsas etc., encherá (ou não) as ruas do país. Não percebi ainda bem o que pedem ou por que causa lutam. Sei apenas que estão descontentes. Ora bolas, eu também!
Estou descontente, desde logo, com uma geração, a minha, que acha que é mais do que as que a antecederam porque é, e cito, "a geração com o maior nível de formação na história do país". Ahhhh óptimo! Somos a geração com mais Dr., Eng. e Arq. por metro quadrado, mas eu não me sinto mais preparada do que os meus pais ou avós. E sobretudo, não me sinto mais preparada do que aqueles senhores que, sem canudo, computador, internet ou facebook, lutaram pela independência e pela construção de um Estado; ou aqueles outros que, contra a ciência e os conhecimentos da época, saíram em "cascas de nozes" e descobriram que o mundo era redondo. Esses também estavam à rasca, mas desenrascaram-se, sem ciência, sem conhecimento e sem direitos adquiridos a suportá-los. Só por isso são melhores do que eu, que estou calmamente sentada ao computador a escrever o que me apetece, apoiada pelas liberdades que outros conquistaram por mim e que me permitem dizer o que penso e pensar como quero.
Estou descontente por ver mais gente a reclamar por um suposto direito ao emprego - o qual não existe - ao invés de lutar pelo direito ao trabalho. E isto não é semântica ou brincadeira de sinónimos. A existência de um "Direito ao Emprego" obrigaria o Estado a criar empregos. O Direito ao Trabalho obriga ao Estado a não criar entraves à criação de emprego. Obriga-o a ter uma fiscalidade amiga das empresas - porque são elas que criam o emprego; a repensar o modelo de Segurança Social e baixar os encargos com a TSU para empresas e trabalhadores; a apoiar o empreendedorismo e a criação do próprio emprego; a flexibilizar as leis laborais, adequando-as aos novos modelos de sociedade e de trabalho; entre muitas outras. É por isto que devíamos lutar: por menos Estado a sufocar as empresas e os cidadãos. Por menos Estado a tributar os rendimentos do trabalho. Por menos Estado a criar regras impossíveis para empresas que têm que produzir e ser competitivas. Por mais produção; por mais indústria; por mais agricultura; por mais serviços; por mais riqueza a ser criada por cada um de nós. No fundo, devíamos sair à rua por um Estado que não corte as pernas, os braços e a voz a quem quer ser desenrascado.
A arrogância é o pecado desta geração que não percebe que pode ter mais formação "superior" mas que essa sua formação, afinal de contas, não é garantia de nada nem um "livre trânsito" para o mundo do trabalho. Mas, mais grave é aliar à arrogância, a ingenuidade dos que acreditam mesmo no que dizem.
Um comentário:
Pois não deixa a menina de ter muita razão, mas num país que se tem vindo a tornar rasca, o que se poderia esperar se não uma geração à rasca? Como dizia um querido amigo meu, quem não tem cão caça com gato, e, exceptuados os felinos dorminhocos, estes são os "gatos" que temos.
Claro que estes movimentos são perigosos, porque demagógicos na mensagem e inconsequentes numa eventual chamada a participar em possíveis decisões decorrentes, mas, numa perspectiva cínica, não deixam de ter a sua utilidade: animam a malta que sai à rua, enchem papel de jornal e horas de noticiários e comentários e permitem às forças políticas fazerem o discursozito de circunstância, com o olho nos votos que podem recolher com a coisa. Se não quisermos ser cínicos, mas, como escreve, "ingénuos", podemos optar por uma perspectiva fashion - tal como os diamantes, também estes manifestantes à rasca terão que ser "lapidados". Naturalmente que, para isso, precisaríamos de "stylists" que lhes fizessem o upgrade necessário, e é aí que a coisa tem falhado, lá diz, muito bem, Cavaco .
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