Infelizmente este texto é verdade. O euro fez-nos muito mal. Embriagamo-nos com ele e embarcámos na ilusão de que o progresso seria imparável e a riqueza interminável. Não percebemos que tínhamos na mão uma oportunidade de ouro para nos tornarmos melhores, mais competitivos, mais exigentes, mais cumpridores, e usámo-la para "fartar vilanagem". Ao invés de apostarmos no crescimento e na valorização, construímos autoestradas como se não houvesse amanhã. Ao invés de dinamizarmos a economia e nos abrirmos aos novos mercados, enchemos o país de jeeps e de betão. Somos pobres mas temos o maior rácio de autoestradas da Europa. Somos pobres mas temos um aeroporto bem jeitoso em Beja, onde nem aterra um avião por dia. Somos pobres, mas temos escolas com candeeiros do Siza Vieira (que lá dentro não se aprenda, de facto, nada é mero acessório).
Construímos um país à nossa semelhança: rico na aparência, mas pobre no essencial. Um alemão dizia-me, noutro dia, que, ao atravessar Portugal de carro - e olhando ao seu parque automóvel - acharia que estava no país mais rico da Europa. Como alemão que é, até nos agradece por isso, porque cada Mercedes, cada Audi, cada BMW ou cada VW vendido é rendimento alemão, para os alemães e para a economia alemã.
E este foi o nosso caminho nos ultimos 30 anos. Achamos que a União Europeia seria a panaceia para os nossos males e gastámos o que tínhamos e o que não tínhamos. Como o dinheiro era barato, e corria sempre, endividámo-nos como país e permitimos que as empresas e as famílias seguissem o mesmo exemplo. Destruímos a poupança e convencemo-nos que estar na U.E. seria ter o rendimento dos alemães mantendo a fraca produtividade portuguesa. Achámos que estar na U.E. seria sempre receber sem ter, nunca, que dar algo em troca. Não percebemos que estar na U.E., implicava, de facto, receber as cenouras mas, também, em alguns momentos, levar uma xicotada. Stick and Carrot!
E agora, que a coisa deu para o torto, nada como gritar contra o Euro. Sem pensarmos o que isso significaria. O retrocesso que seria para os portugueses, e para o nível de vida a que estes se habituaram, sair da moeda única e voltar a contar escudos. Seria o fim do crédito, seria o fim dos carros alemães, seria o fim dos iPhones. Alguém que se manifesta hoje quer pagar esse preço? Quando gritam contra a troika estarão a perceber que gritam contra quem nos paga as contas e contra quem, bem ou mal, ainda nos permite manter o nível de vida a que, colectivamente como sociedade, nos habituámos?
E agora? Ou invertemos caminho ou estamos condenados a anos de pobreza talvez mesmo de miséria (a mesma que a Europa e o Euro ajudaram a acabar). Infelizmente para mim, ver que na véspera de mais uma manifestação "devolvam-nos a nossa vida" o iPhone5 esgota nas lojas, não me parece um bom sinal, na medida em que demonstra que não percebemos nada do que nos aconteceu e que tudo o que venha aí vai ser vivido com a mesma embriaguês. Sejam eurobonds, seja maior intregração política, seja um fundo de redenção para a dívida, seja o que for. Se não mudarmos o espírito, se não mudarmos o essencial, se não olharmos para o futuro como uma oportunidade de fazer diferente e fazer melhor e insistirmos nos erros passados, não vamos lá. É que não vamos não!
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