Não me lembro do dia em que fiz sete anos. Mas, à distância
de 24 anos, imagino que tenha sido um dia feliz. Terei recebido os presentes
que esperava e terei aproveitado um dia de sol (como é normal acontecer a 15 de
Setembro, em Lisboa) ao lado de todos aqueles que eram importantes no meu pequeno
mundo. E isso bastava para, do alto das certezas dos meus 7 anos, me sentir a
menina mais feliz do mundo. Faz parte e é bom.
Aos 7 anos, numa vida feliz, tudo ainda são sonhos, esperanças
e promessas. Aos 7 anos, numa vida feliz, ainda não descobrimos a angústia, a
desilusão e o vazio. Ainda bem! Há muito tempo até começarem a nascer as
primeiras borbulhas e as primeiras dúvidas (curiosamente, geralmente, vêm de mãos
dadas). Muito tempo até nos exigirem escolhas tão determinantes como: o que é
que queres fazer na vida (!). Mas mesmo o muito tempo (7 mais 7 são 14 e,
portanto, o muito tempo é, afinal, o dobro daquele que então tínhamos vivido) é
sempre pouco tempo.
A Catarina faz hoje 7 anos. Está a aprender a escrever e
está a aprender a contar. Para ela a escola ainda é uma ilusão, cheia de magia:
o sítio onde vai aprender todas as coisas e onde vai encontrar as respostas a
todas as suas mil perguntas. Para ela a felicidade, felicidade plena, é ter-nos
– a família mais próxima – com ela no dia dos anos. (Ao mesmo tempo, tão pouco
para se pedir e tanto para se dar). Para ela basta a certeza de que nós a
amamos para ser feliz. E dar-lhe essa certeza é (ainda) tão simples! E vê-la
aos 7 anos é recordar que todos nós fizemos 7 anos um dia. Todos nós
acreditámos que a escola era a ilusão. Todos nós achámos que a felicidade era
uma coisa fácil de vivenciar. Todos nós sentimos, nas mais pequenas coisas, que
éramos amados e isso bastava.
A Catarina faz hoje 7 anos e o que eu lhe posso dizer, tendo
4 vezes 7 mais alguma coisa, é para aproveitar bem a infância. Ela passa rápido
– demasiado rápido – e depois nunca mais a vida será vivida de uma forma tão
simples e, ao mesmo tempo, tão sábia. A Catarina que tenha agora todas as
certezas, porque, de facto, elas são a base de uma infância feliz, mas que não as
leve para a idade adulta – devem ficar arrumadas, juntamente com os brinquedos cansados
de tantos anos de brincadeiras, como uma bela memória dos tempos que foram. A
Catarina que tenha agora todos os sonhos e todas as esperanças e que não os
deixe, nunca, ficarem curtos de mais para o seu tamanho. Esses sim devem ser
levados para a adolescência e para a vida adulta, para que se mantenha sempre a
mesma curiosidade de continuar a perguntar, de continuar a não saber tudo e de
continuar a sentir o encantamento pela vida e pelo mundo. Porque nada no nosso
mundo é plano (há a esfera para além do círculo) e em qualquer idade há espaço
e há tempo para a descoberta, para o fascínio, para parar e olhar para o mundo
com os olhos da criança curiosa que um dia fomos e deixarmo-nos apaixonar por
ele. A Catarina que se sinta amada e que faça desse imenso património um seguro
para o que virá no futuro: os amores que, infelizmente, não vão correr bem, os
desgostos e as desilusões. Porque nunca mais será tão simples sentir e dar amor
como é aos 7 anos.
Quantos sonhos cabem em 7 anos de vida? Todos! Parabéns
Catarina.
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