quinta-feira, outubro 18, 2012

7 anos

Não me lembro do dia em que fiz sete anos. Mas, à distância de 24 anos, imagino que tenha sido um dia feliz. Terei recebido os presentes que esperava e terei aproveitado um dia de sol (como é normal acontecer a 15 de Setembro, em Lisboa) ao lado de todos aqueles que eram importantes no meu pequeno mundo. E isso bastava para, do alto das certezas dos meus 7 anos, me sentir a menina mais feliz do mundo. Faz parte e é bom.

Aos 7 anos, numa vida feliz, tudo ainda são sonhos, esperanças e promessas. Aos 7 anos, numa vida feliz, ainda não descobrimos a angústia, a desilusão e o vazio. Ainda bem! Há muito tempo até começarem a nascer as primeiras borbulhas e as primeiras dúvidas (curiosamente, geralmente, vêm de mãos dadas). Muito tempo até nos exigirem escolhas tão determinantes como: o que é que queres fazer na vida (!). Mas mesmo o muito tempo (7 mais 7 são 14 e, portanto, o muito tempo é, afinal, o dobro daquele que então tínhamos vivido) é sempre pouco tempo.
A Catarina faz hoje 7 anos. Está a aprender a escrever e está a aprender a contar. Para ela a escola ainda é uma ilusão, cheia de magia: o sítio onde vai aprender todas as coisas e onde vai encontrar as respostas a todas as suas mil perguntas. Para ela a felicidade, felicidade plena, é ter-nos – a família mais próxima – com ela no dia dos anos. (Ao mesmo tempo, tão pouco para se pedir e tanto para se dar). Para ela basta a certeza de que nós a amamos para ser feliz. E dar-lhe essa certeza é (ainda) tão simples! E vê-la aos 7 anos é recordar que todos nós fizemos 7 anos um dia. Todos nós acreditámos que a escola era a ilusão. Todos nós achámos que a felicidade era uma coisa fácil de vivenciar. Todos nós sentimos, nas mais pequenas coisas, que éramos amados e isso bastava.
A Catarina faz hoje 7 anos e o que eu lhe posso dizer, tendo 4 vezes 7 mais alguma coisa, é para aproveitar bem a infância. Ela passa rápido – demasiado rápido – e depois nunca mais a vida será vivida de uma forma tão simples e, ao mesmo tempo, tão sábia. A Catarina que tenha agora todas as certezas, porque, de facto, elas são a base de uma infância feliz, mas que não as leve para a idade adulta – devem ficar arrumadas, juntamente com os brinquedos cansados de tantos anos de brincadeiras, como uma bela memória dos tempos que foram. A Catarina que tenha agora todos os sonhos e todas as esperanças e que não os deixe, nunca, ficarem curtos de mais para o seu tamanho. Esses sim devem ser levados para a adolescência e para a vida adulta, para que se mantenha sempre a mesma curiosidade de continuar a perguntar, de continuar a não saber tudo e de continuar a sentir o encantamento pela vida e pelo mundo. Porque nada no nosso mundo é plano (há a esfera para além do círculo) e em qualquer idade há espaço e há tempo para a descoberta, para o fascínio, para parar e olhar para o mundo com os olhos da criança curiosa que um dia fomos e deixarmo-nos apaixonar por ele. A Catarina que se sinta amada e que faça desse imenso património um seguro para o que virá no futuro: os amores que, infelizmente, não vão correr bem, os desgostos e as desilusões. Porque nunca mais será tão simples sentir e dar amor como é aos 7 anos.
Quantos sonhos cabem em 7 anos de vida? Todos! Parabéns Catarina.

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