Custa-me ver as notícias que dão conta do mal-estar na
coligação governamental, não pelo que esse mal-estar significa (é muitas vezes
da divergência que nasce a melhor solução) mas pelo que isso pode significar para
o país, que não pode ir para eleições, nem pode perder a credibilidade externa garantida
apenas pela estabilidade e pelo amplo consenso político.
O orçamento é mau? É. O aumento de impostos merece todos
aqueles nomes que lhe atribuíram? Merece. A inflexibilidade demonstrada pelo
Ministro das Finanças é um mau sinal? É.
Mas... é solução esticar a corda até a rebentar? Não.
Precisamos de gente responsável que saiba que, neste momento, Portugal precisa
de ter um Orçamento aprovado que satisfaça as exigências da Troika. Precisamos de
um governo que se mostre capaz de liderar as reformas de que o país, desesperadamente, precisa. Precisamos de governantes com a fibra necessária para
aguentarem a pressão das ruas, sem se desviarem daquele que deve ser o seu
caminho: a reforma do Estado e a consolidação orçamental (sim, uma sem a outra
de nada valeria). Precisamos de partidos responsáveis e à altura das suas
obrigações (e aqui não falo apenas do PSD e do CDS, mas sobretudo do PS, que
não se pode esquecer do que assinou em Maio passado e passar ao lado de tudo o
que estamos a viver assobiando para o ar.) Precisamos de um governo que se mostre
empenhado, determinado mas também flexível no que toca a encontrar melhores
soluções.
Como observadora externa, parece-me a mim – como a muita
gente – que o esforço do lado da despesa deveria ser maior. Mas será que isso
seria menos duro do que fazer o ajustamento pelo lado da receita? Se calhar
não. Porque as gorduras do Estado, quando se vão a ver de perto, são órgãos que,
afinal, todos parecem considerar vitais. Não se pode falar de privatizações (TAP, CGD,
RTP, etc). Não se pode falar em repensar os serviços públicos (desde logo saúde
e educação que não podem continuar a ser tendencialmente gratuitas). Não se
pode falar em reduzir a máquina da Administração Pública (com os necessários
ajustamentos nos seus funcionários). Não se pode falar em reformar, verdadeiramente,
a Segurança Social introduzindo verdadeira liberdade de escolha.
E é por isso, por esse caminho ser difícil e se deparar com
múltiplas dificuldades, que se opta pelo aumento brutal dos impostos. O CDS
não gosta? Claro que não gosta! Não poderia gostar. Mas e agora? O que fazer? Só
vejo um caminho: ser consequente e apresentar aquilo que o Ministro Gaspar pediu: propostas sérias e consequentes de cortes na despesa.
É isso que eu espero dos deputados que ajudei a eleger. E à maioria, só peço
que demonstre a flexibilidades, a maturidade e a seriedade que se exige aos
nossos governantes e representantes. Sobretudo em tempos difíceis.
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