Ela entrou na sala e viu-o. Ele estava rodeado de gente, mas foi apenas nele que ela reparou. Tentou parecer segura e distante. Afinal, estava ali para se encontrar com os seus amigos e não para o ver a ele. Porém, passados poucos minutos, depois de pedir a sua bebida e sentar-se, confortavelmente, num cadeirão, era já impossível ignorar o magnetismo que a puxava para ele. Estava rodeada de gente, mas só ele interessava. Discutiram e debateram ideias. Levantaram a voz e riram. Conversaram várias horas, indiferentes ao relógio e aos outros. Já não eram dois estranhos, mas parceiros de um diálogo improvável. E, naquele momento, só isso importava. Não havia passado - no qual ainda não se conheciam - nem havia futuro - no qual ela não sabia o que poderia acontecer. Apenas aquele presente tão particular, com o ruído de outras conversas e com cheiro a cigarros. Ela, porém, lutava para se manter tão distante e indiferente como antes. Despediu-se, desculpando-se com o facto de ter que acordar cedo, e tentou arrumá-lo no fundo dos seus pensamentos. Estaria apaixonada? Não! Era impossível. Ridículo até... ninguém se apaixona por um homem que mal conhece. Ninguém se apaixona ao fim de uma conversa... Ninguém, muito menos ela, sempre tão avessa a qualquer sentimento e a qualquer dependência emocional. Não! Depois de mais este acaso do destino, provavelmente, não voltaria a vê-lo. Seria, até, melhor assim, obrigou-se a pensar enquanto se afastava. Porém, ao chegar à rua, naquela noite fria, de fim de inverno, ela levava a secreta esperança de voltar a encontrá-lo, num qualquer outro momento improvável. Naquela noite fria, de fim de inverno, embora muito longe de o saber, ela estava, já, apaixonada por ele.
textos inéditos, por BSC
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