quinta-feira, novembro 15, 2012

Sala de pânico

Já por diversas vezes ele se tinha questionado sobre a segurança daquele edifício. Sabia bem que qualquer um ali podia entrar e fazer o que bem lhe apetecesse. Por várias vezes imaginara que, naqueles longos corredores cinzentos, se passassem as mais fantasiosas estórias, a coberto da noite. Mas, mesmo com uma imaginação como a sua, capaz de conceber o que muitos consideravam impossível, nada o poderia ter preparado para o que encontrara, naquela manhã, ao entrar no seu gabinete. De repente, todos os policiais que lera ganhavam vida à sua frente. Mas nem mesmo a leitura compulsiva de romances de mistério o poderia deixar menos perturbado perante aquilo que agora testemunhava. De repente, talvez fosse a isso que se chama estado de choque, ele era incapaz de reagir. Estava preso ao chão, incapaz de se mexer. Incapaz de pensar o que deveria fazer. Se ele fosse a personagem de um qualquer livro policial, mesmo daqueles mais manhosos, saberia, exactamente, o que fazer e como agir naquelas circunstâncias. Seria o homem providencial e iniciaria, de imediato, a sua própria investigação. Com sorte, aquele seria o início de uma bem sucedida saga, da qual ele seria o herói inesperado, catapultado para a celebridade mundial. Mas ele não era a personagem de um livro. Ele era apenas um homem comum que acabara de chegar ao seu gabinete e que apenas queria sentar-se, com o seu café, e calmamente iniciar o computador e preparar-se para mais um monótono dia de trabalho. Até àquele dia tudo na sua vida fora, rotineiramente, monótono e previsível. E nada, absolutamente nada, nem a sua imaginação delirante, o podia ter preparado para o que tinha, naquele momento, à sua frente.



textos inéditos, por BSC

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