domingo, dezembro 02, 2012

To Rome with Love e as suas duas críticas





Sou fã confessa de Woody Allen. Já vi filmes dele absolutamente geniais e outros que são apenas bons, mas nunca tinha saido do cinema com a sensação de desilusão. Mesmo quando não enamorava, quando não encantava ou quando não nos deixava esmagados, Woody Allen não desapontava. Para além disso, enquadro-me no grupo daqueles fãs menos "puristas", pelo que o aprecio mesmo quando ele deriva de si próprio. Aconteceu assim  com o inesperado Vicky Cristina Barcelona e, em particular, com o fabuloso e encantador Midnight in Paris.

As expectativas estavam, por isso mesmo, colocadas lá em cima para o seu último To Rome with Love. Mais uma vez, Woody Allen juntava o seu argumento a um elenco de luxo e a uma cidade apaixonante. Receita para um sucesso garantido. Aguardei com especial ansiedade a estreia do filme e quando, finalmente, o fui ver, em finais de Setembro, saí do cinema desapontada. Esperava tão mais daquele filme, que o seu conjunto de histórias quase banais e previsíveis não me conseguiu envolver por um só momento. Achei que era um filmezinho construído sobre clichés e que, salvo alguns diálogos de Baldwin e Eisenberg, nada tinha de um verdadeiro Woody Allen. Ou seja, a deriva tinha sido tão grande que o produto final ficava na terra de ninguém.


Senti-me triste por me sentir desiludida com um realizador de que gosto. Bem sei que é inútil e pretensiosa esta tentativa de proteger aqueles que admiramos das nossas desilusões pessoais, mas parece-me uma característica inevitável da natureza humana. Ou pelo menos da minha. Por isso, sinto-me sempre tão desconfortável quando alguém que eu admiro e em cujo trabalho coloco tanta "fé", seja um realizador, seja ou autor, seja um político, seja um músico, faz alguma coisa que não está à altura dos seus melhores trabalhos. Sem perceber que o problema está em mim, e nas minhas elevadas expectativas, e não no objecto da minha admiração que, como humano que é, corre sempre o risco de não estar, em todos os momentos, à altura das suas mais geniais criações. (Talvez por isso haja artistas que nunca se arriscam para além da obra de estreia, porque o medo da desilusão alheia funciona como bloqueio criativo).

Porém, aqui há umas semanas, criou-se a oportunidade para voltar a ver o To Rome with Love. Parti do meu desapontamento e, com ele, consegui ver para além do óbvio e perceber, que afinal, há pequenas nuances de génio (a história do cantor de ópera), há fragmentos de história encantadores (a ligação criada entre o arquitecto mais velho e o jovem estudante) e outros absolutamente certeiros (a crítica acutilante ao mundo da fama instantânea dos reality shows e seus derivados). Continua a não ser o melhor trabalho da carreira de Woody Allen (não será, sequer, o melhor dos últimos anos), mas quando a expectativa já era apenas a de uma tremenda desilusão, foi possível ver para além do óbvio e deixar-me seduzir pelos pequenos detalhes. E se é verdade que Deus está nos detalhes, então, também nesta obra menor de um autor maior há qualquer coisa de "divino".

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