segunda-feira, fevereiro 25, 2019

An Oscar to the Great Pretender*

Disclaimer: Eu adoro os Queen, admiro a personagem que foi Freddy Mercury e não gostei do filme Bohemian Rhapsody. 

Hesitei bastante antes de ceder à tentação de ver o BioPic sobre os Queen porque temia que não fosse gostar. Mas depois de ler tantas críticas positivas e de ser desafiada por tantos amigos a ver, lá me decidi pelas 2 horas e um quarto que, se nada mais me trouxessem, teriam uma excelente banda sonora. 

E a verdade é que, no fim de contas, o melhor do filme é mesmo a música, toda ela original dos Queen e cantada pelo próprio, único e inimitável, Mr. Mercury. 

E exactamente o que é que me desagradou no Bohemian Rhapsody? 

Há várias inaccuracies na história e todas elas, surpreendentemente, fazem com que Freddy Mercury se torne menor na história dos Queen, o que não corresponde à verdade. Até porque os Queen, apesar das tentativas, não sobreviveram à sua morte. 

Da forma como eu vi o filme, pareceu-me que o argumento sugere, de forma muito subtil, que a infecção com HIV e depois o diagnóstico com sida vem de alguma forma “castigar” a vida de excessos de Mercury e que a ele vê essa “condenação” como a “expiação” por esses mesmos excessos. Não é por acaso que, segundo o argumento, o diagnóstico e o seu regresso aos Queen ocorrem praticamente em simultâneo e Mercury parece tão arrependido da sua tentativa de carreira a solo e como dos seus anos loucos de festas, sexo e drogas. Ora, na verdade as coisas não se passaram exactamente nessa cronologia (muito menos sabemos se foi assim que ele as sentiu). E esta não deixa de ser uma visão “moralista” dos factos.

Depois, e mais importante do que tudo isto, Freddy Mercury, apesar da sua personagem pública ser extravagante e “bigger than life”, sempre fez questão de proteger a sua intimidade e de não se expor. Em entrevistas falava do seu trabalho e da sua obra, mas evitava falar da sua vida. Nunca respondeu, apesar de infindáveis tentativas, a perguntas sobre a sua sexualidade. Até ao penúltimo dia de vida, nunca confirmou ter sida. E quando o fez, pediu respeito e que o deixassem em paz. 

Ora, a minha questão é: será legítimo vir explorar a vida privada de alguém que em vida nunca quis expor a sua intimidade mas apenas a sua obra? Será legítimo fazer-se um filme que conta amores e aventuras de alguém que, enquanto viveu, tanto se esforçou para que não fosse esse o motivo do interesse do público? 

Mercury foi um performer. No palco era um actor que vestia a personagem do Mr. Mercury, do Mr. Bad Guy ou do Mr. Fahrenheit. Mas a sua vida era privada e ele nunca fez dela um show. Antes pelo contrário, o interesse despertado por si deveria concentrar-se na sua obra e não na sua vida. Bohemian Rhapsody vem ligar as duas e contar uma história sobre a vida de um homem que, pela sua mão, nunca a quis ver contada. 

Posto isto, parece que Rami Malek levou o prémio de melhor actor ontem na grande noite dos Oscars. A forma como interpreto a coisa é que Freddy Mercury ganhou um prémio póstumo pela sua extraordinária interpretação como Freddy Mercury, the Great Pretender. Assim, a coisa, para mim, fica mais pacífica.




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* e sim, uso o nome de uma grande versão a solo, porque estou um bocado irritada com os Queen sobreviventes.

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