Os Franceses decidem hoje o que pensam do TCUE e a Europa pára, de olhos fixos no hexágono, como se o seu futuro dependesse de um «oui» ou de um «non».
Não concordo com tal histeria, como não concordo com a participação de portugueses (bem como de dirigentes políticos de outros países) na campanha do «oui». Os franceses devem decidir em consciência e não porque Schroeder ou porque Zapatero lá vão apelar ao sim! Será que nenhum destes dirigentes percebe que, ou a Europa é feita pelos povos, ou então não vale a pena? A União Europeia jamais se poderá impor de cima, pelo poder político, contra a vontade dos povos! No dia em que assim for, em que a UE for imposta contra a vontade dos povos europeus, é o fim da Europa!
Sem saber ainda os resultados, estou convicta que a França votará não. Mas não votará não a um Tratado Constitucional que não conhece (afinal, quem conhece os seus 300 artigos?). Votará não ao alargamento, votará não à entrada da Turquia, votará não a uma Europa na qual a França tem cada vez menos voz, votará não a um mundo no qual a França praticamente já nada conta.
A França procura o seu lugar, ou melhor, tenta adaptar-se ao facto de já não ter lugar de destaque, nem na Europa, nem no mundo. E ao aperceber-se que a UE não servirá os seus sonhos antigos de hegemonia e de confronto aos EUA, desiste também dessa ideia e vota não. No fundo, o drama francês, que provavelmente se converterá num rotundo não ao TCUE, está intimamente relacionado com o papel (ou falta dele) da França no mundo.
O hexágono, quando há mais de 50 anos, pela voz de Robert Schuman, propôs a criação de uma União Europeia, acreditava que tal projecto seria liderado pela França e poderia, num futuro talvez não muito longínquo, formar os Estados Unidos da Europa, que seria o contra-poder aos EUA e à Rússia, num mundo então bipolar. A França nunca perdeu a ilusão de que poderia, de alguma forma, ser o rival europeu dos EUA e o grande motor de desenvolvimento da Europa. Durante 50 anos a França foi forçada a perceber que qualquer poder e influência que ainda tivesse foram sendo perdidos e que, neste momento, não passa de mais um Estado Europeu, ainda no grupo dos grandes, mas sem maior poder do que a sua vizinha Alemanha, agora reunificada e cada vez mais central (política e geograficamente) numa Europa que tende para os alargamentos a leste. É face a este estado de coisas que a França vota não.
Um voto que é mais contra a própria França (o que ela é hoje, no que ela se transformou) do que contra um qualquer Tratado Constitucional. Como muito bem dizia JPC, na última edição do Expresso, «(...) o estado actual da França é uma espécie de queijo indígena: esburacado e fedorento. Mas, «hélas», sem o sabor tradicional.»
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