Se há coisa difícil é a gestão das expectativas. Uma boa
solução pode ser vista como terrível pelo simples facto de a expectativa ter
sido posta alta de mais. Ou o contrário. A TSU comprova-o.
Nunca me hei-de esquecer como as altas expectativas
colocadas numa viagem a Paris, (tinha eu 11 anos) tornaram a cidade uma imensa
desilusão. Curiosamente, na medida em que a minha lembrança (elevada ao
expoente máximo por ser a memória de uma criança) é a de uma imensa desilusão,
de cada vez que lá voltei descobri alguma coisa capaz de me interessar,
primeiro, de me fazer gostar, depois, e, quem sabe um dia, não encontrarei
alguma coisa em Paris capaz de me fazer apaixonar. Com Bruxelas passou-se o
inverso. A expectativa foi sempre tão baixa (todos me diziam que Bruxelas era
desengraçada, cinzenta, apática e sem alma), que cada recanto engraçado, cada
parque verde, cada praceta animada e cada bairro com alma própria acaba por ser
apaixonante por si só, na sua simplicidade e na sua quase resignação.
Toda esta introdução para ir à comunicação de amanhã de
Vítor Gaspar. Parece-me – posso estar a tresler os sinais, e possivelmente
estarei a ignorar a imensa capacidade de desilusão dos Portugueses - que depois
da tragédia chamada TSU as expectativas de que alguma medida boa (ou, até,
menos má) venha a ser apresentada pelo Governo é igual a zero. Todos esperamos
o pior. Corte de subsídios, redução de poder de compra, aumento de impostos,
cortes nos ordenados e pensões e todas as demais “tragédias”, mais ou menos
antevistas e pré-anunciadas. Eventualmente, nunca as expectativas face a um
Orçamento do Estado foram tão baixas. O país saiu às ruas e mostrou-se cansado
e desiludido. Pior do que isso, mostrou-se zangado e desalentado. Com a TSU
deu-se a ruptura da esperança. O país já não acredita, a expectativa é nenhuma.
Ora, sendo assim, será possível que alguma coisa do que
Vítor Gaspar venha dizer amanhã seja pior do que a ausência de esperança?
Poderá algum aumento de impostos, alguma perda de subsídios, algum corte dos
ordenados e pensões ou alguma medida, por mais dura que seja, ser mais dura do
que nenhuma expectativa? Do que nenhuma esperança? Não me parece. Por isso,
qualquer coisa que venha a ser anunciada amanhã – ainda que sejam medidas mais duras
do que a proposta da TSU – será aceite com a mesma resignação com que Bruxelas
aceita que não é Paris. Porque a TSU foi o quebrar da esperança, e por isso doeu.
Agora que não há esperança, poderemos aceitar o que for. A expectativa é
nenhuma, pelo que tudo o que vier será melhor e o país, resignado, continuará a pagar.
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