“Este não é o nosso orçamento”. Ok. Até pode não ser.
Ninguém gosta dele, a começar no Primeiro Ministro, passando pelo líder do
segundo partido da coligação. Possivelmente, nem Vítor Gaspar gosta. Até aqui
tudo certo. Eu também não gosto de dias em que apanho uma molha – como hoje – e
nem por isso vou fazer uma manifestação contra a chuva. É uma inevitabilidade.
Tal como os impostos.
Por isso pergunto, qual é o objectivo último de quem se manifesta sob o
lema “Este não é o nosso orçamento”? Chumbar o orçamento, provocando a demissão
do governo, a inevitável convulsão política e social e a não aprovação da “6
fatia de ajuda”. Cortar definitivamente com a Troika, com o programa de
ajustamento, voltar ao Escudo e virar costas à UE? Inverter completamente a
marcha à esquerda, dizer não pagamos aos nossos credores e recomeçar do zero
como Estado falido e falhado?
Quem grita “Este não é o nosso orçamento” está mesmo
disposto a rasgar o Memorando de Entendimento com tudo o que isso implica? Quem
grita “Este não é o nosso orçamento” tem alguma alternativa credível – de vendedores
de ilusões estamos nós fartos – que nos permita continuar a cumprir o programa
de ajustamento, mas de outra maneira? Quem grita “Este não é o nosso orçamento” está disposto a pagar
o preço da única alternativa possível – uma dieta violentíssima do Estado com
tudo o que isso implica para: funcionários públicos, subsídios, autarquias, empresas
e serviços públicos? É porque a escolha é só uma: ou gastamos menos e cobramos
menos, ou continuamos a gastar como gastamos e os impostos terão sempre que
aumentar, para alimentar o monstro voraz que é o Estado, as suas tarefas,
funções, serviços e empresas.
E é por achar que quem grita “Este não é o nosso orçamento”
não está, no fim de contas, disposto a nada disto, que acho que a manifestação,
em si mesma, é completamente fútil: porque não pretende nem a demissão do
Governo, nem a eleição de um Governo que faça diferente, nem uma inversão
total na forma como somos governados desde 75. Pretende só protestar e
espernear, tal como aqueles que, em vão, protestam contra a chuva ou contra o
vento. E a esses eu só posso dar um conselho - sentido e vivido - cresçam!
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