A minha relação com a neve é qualquer coisa de inexplicável. É uma verdadeira dualidade de sentimentos que me atinge de forma particularmente aguda. Passo a explicar.
Naquele exacto momento em que começa a nevar, e eu sinto os flocos a baterem-me nas pestanas, não há como evitar um sentimento de genuína alegria. Rio-me, ainda que sozinha. Pareço uma criança, feliz com o seu globo de neve, privado e real. Gosto de a sentir, de lhe tocar, de a ver a derreter, devagar, em contacto com a pele quente. Se estou em casa, e vejo a neve a pintalgar a árvore que me esconde a janela, é quase paz aquilo que sinto. A neve a cair tem um estranho efeito tranquilizador. Talvez seja a sua serena cadência, o seu branco exemplar, o facto de, ao contrário da chuva, ser silenciosa. Acordar e ver uma cidade pintada de branco é uma experiência de paz inigualável.
Mas há o reverso da medalha...
A calma e a serenidade da neve branca nada tem que ver com o caos por ela causado. Os aviões que atrasam. Os autocarros que não andam. Os táxis que não existem. A cidade, caótica na sua incapacidade de viver a neve, pára num uníssono de buzinas e de gente irritada, que escorrega e cai. E, ao fim de algumas horas, o branco dá lugar a uma amálgama preta, mistura de gelo com poluição e óleo, que suja as ruas e estraga todo o efeito bucólico do fenómeno. E é, precisamente, aí que eu me irrito com os atrasos, com as dificuldades e com as pessoas mal dispostas.
E é nesta absoluta dualidade de calma e caos, de pureza e de sujidade, que se encontra a minha incapacidade de conciliar as diferentes sensações causadas pela neve. Amo e odeio. Gosto do fenómeno em si, mas detesto as suas consequências na vida prática.
Porém, não consigo evitar o sorriso ao primeiro nevão do ano. Como não consigo não gostar dos domingos pintados de neve e da minha árvore branca a espreitar-me, pacificamente, pela janela.
Porém, não consigo evitar o sorriso ao primeiro nevão do ano. Como não consigo não gostar dos domingos pintados de neve e da minha árvore branca a espreitar-me, pacificamente, pela janela.
2 comentários:
Diz que evou também em Edimburgo a wee bit mas eu não estava lá para ver. É azar!
E qdo é que me vens visitar?
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